Thursday, May 31, 2007
"Eduquês", português....
Ficámos esta semana a conhecer o interesse do Ministério da Educação pela língua portuguesa. O Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE) deu ordens para que nas primeiras partes das provas de aferição de Língua Portguesa do 4.º e 6.º anos, os erros de construção gráfica, grafia ou de uso de convenções gráficas não fossem considerados. Custa a acreditar, mas é verdade! Deu ordens mas naturalmente não deu explicações. Resultado: nas ditas "provas" foi uma alegria. E valeu tudo, desde tratar um sujeito como predicado, usar um "ç" em vez de dois "s", até, pasme-se, inventar palavras! As pérolas são mais que muitas, alguns exemplos: à pergunta "Pensas que a mãe da Ana acreditava em criaturas fantásticas?" encontramos respostas como "Não porque a mãe costamão disse os filhos não a criaturas fantásticas" ou "Penso, que não porque ela sabia que não existiu"!!! Mas o mais extraordinário é que estas respostas são pontuadas!!! Como do GAVE não saiu, nem podia sair, nenhuma explicação para tão aberrante decisão nada como tentar adivinhar os luminosos critérios da 5 de Outubro. E foi isso que aconteceu. Da Associação de Professores de Português pensa-se que a ideia do GAVE passa por avaliar em separado as competências da leitura das competências da escrita, e que na primeira parte, de análise de texto, se avalie apenas se os alunos o compreenderam. Os professores, cautelosos, não vá o diabo, ou melhor, a delação, tecê-las, são cautelosos, falando em critérios contraditórios com o investimento do Estado na língua portuguesa, enquanto outros se sentem naturalmente traídos. Perguntamos nós: que sentido faz avaliar separadamente as ditas competências? Com esta decisão como é que se sabe se o aluno de facto compreendeu o texto se, depois, a resposta tem uma construção frásica incompreensível? Devemos olhar para o lado se o aluno não consegue exprimir o que entende? Como é que se sente o aluno que respondeu correctamente às perguntas e é confrontado com a valorização do erro? E os professores, depois de um ano a exigir aos alunos respostas completas, bem construídas e sem erros? Para o GAVE vale tudo menos saber escrever português. Isso não deu pontos. Mas não deixará de contribuir para a iliteracia reinante entre os indígenas, com a benção do Ministério da Educação. O que vai na cabeça desta gente, que penaliza o esforço e o trabalho e bate palmas ao facilitismo? Este era sem dúvida um bom pretexto para uma desobediência civil generalizada contra este dirigismo bacoco. Mas não, pois parece que tudo vai bem, no reino do "eduquês", português...
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