Friday, January 11, 2008

Ética da Responsabilidade...


O esperado aconteceu. Não vamos ter referendo ao Tratado de Lisboa. O dito será ratificado pelo Parlamento. Mais uma promessa por cumprir. Depois dos impostos, que não seriam aumentados, e dos 150.000 novos empregos, que tardam em aparecer. O primeiro-ministro tornou-se um especialista na matéria, a bem do supremo interesse europeu. O compromisso assumido com outros primeiros-ministros conta mais que o compromisso com o país. "Há aqui uma ética da responsabilidade", disse-nos. Ética da responsabilidade? Mas onde está ela? Na quebra de uma promessa eleitoral? Em fazer o contrário do que está no programa do Governo? Para defender a ratificação parlamentar o Engenheiro invocou 3 razões: porque há "um consenso alargado na sociedade portuguesa quanto ao projecto europeu e ao próprio Tratado de Lisboa"; pelo efeito dominó que o referendo teria nos restantes países; finalmente, porque este já não é o Tratado Constitucional que estava em cima da mesa quando foi eleito e "não implica limitações à soberania nacional". Questionemos, enquanto nos é permitido: Consenso alargado? Onde está ele? Que dados dispõe Sócrates para sustentar tal tese? Do INE, que ele controla? Que debate foi feito? Se há um consenso alargado porque não discutir um tratado que ninguém percebe? Porque não ouvir o povo? Quanto à tese do efeito dominó ficámos a saber, se dúvidas houvessem, que Portugal faz aquilo que lhe mandam fazer, como membro bem comportado que é. Por último invoca-se uma pseudodiferença entre o Tratado de Lisboa e o Tratado Constitucional, como se fossemos todos estúpidos. Mas que diferença é essa? Onomástica? Porque o novo não contempla os símbolos "europeus" como a bandeira e o hino? Quando 90% do conteúdo da famigerada Constituição Europeia está no Tratado de Lisboa que dizer disto? O essencial (divisão de poderes, direitos dos cidadãos, maioria qualificada, identidade substantiva) não está incorporado no Tratado de Lisboa? A irrelevância do país consagrada pelo novo tratado diz tudo sobre a ausência de limitações à soberania nacional. Perde-se assim uma oportunidade, única, para, pela primeira vez, os portugueses discutirem a sério a Europa. Mas os burocratas de Bruxelas, com a conivência da generalidade dos políticos nacionais, não querem esta discussão. Temem a consulta popular. A "euroeuforia" de hoje será a desgraça de amanhã...

Monday, January 7, 2008

D. João da Câmara, no Centenário da sua Morte (1908-2008)


Quem foi D. João da Câmara? Descendente directo do navegador que descobriu a Madeira, D. João Gonçalves Zarco da Câmara era filho do cruzamento da estirpe dos marqueses e condes da Ribeira Grande (pelo lado do pai) com a dos duques de Lafões (pelo lado da mãe). O seu álbum familiar estava recheado de «embaixadores, ministros, alcaides-mores e ouvidores geraes». Nasceu em 1852. Desde muito cedo cultivou as letras, como atesta o drama O Diabo, escrito ainda quando era aluno do Colégio de Campolide. Depois de uma passagem por Lovaina (Bélgica), matriculou-se na Escola Politécnica de Lisboa. A sua estreia como autor dramático, no Teatro D. Maria, acontece com a comédia em 1 acto Ao pé do Fogão. Terminado o curso no Instituto Industrial, foi encarregado de vários trabalhos ferroviários, o que lhe valeu, em 1900, a nomeação para chefe de repartição dos caminhos-de-ferro ultramarinos. Pelo meio, dedica-se às suas grandes paixões, o teatro, a poesia e o jornalismo: em 1888, escreveu o monólogo Os Gatos; dois anos depois, em 1890, terá um êxito estrondoso no D. Maria com D. Afonso VI, um drama em 5 actos e em verso; seguir-se-ão muitas outras peças, com destaque para Os Velhos, em 3 actos, (1893), O Pântano, 4 actos (1894), A Toutinegra Real, 3 actos (1895), O Beijo do Infante (1898), Rosa Enjeitada, 6 actos (1901). De colaboração com Gervásio Lobato, escreveu a comédia Os Anos da Menina, em 1892, e as operetas em 3 actos, com música de Ciríaco Cardoso: O Burro do Sr. Alcaide, (1891), Cocó, Reineta e Facada (1893), O Testamento da Velha (1894), entre outras. Da colaboração com Gervásio Lobato e Lopes de Mendonça, escreveu a farsa Zé Palonso (1891); com Eduardo Schwalbach, O João das Velhas (1901); com o mesmo e Lopes de Mendonça, Moura Cabral, Batalha Reis e Fernando Caldeira, a farsa O Burro em Pancas (1892). Foi ainda autor dos romances históricos El-Rei, e O Conde de Castelo Melhor, e d'O Livro de leitura para as escolas de instrução primária, juntamente com Raul Brandão e Maximiliano de Azevedo. Destacou-se ainda como jornalista, em prosa e em verso, deixando colaboração valiosíssima na revista O Ocidente, onde substituirá Gervásio Lobato. Foi ainda professor de arte dramática no Conservatório de Lisboa, e sócio da Academia Real das Ciências. Morreu no dia 2 de Janeiro de 1908.

Razões suficientes para a Hemeroteca Municipal de Lisboa revisitar a sua vida e obra, muito esquecida, diga-se, numa altura em que se assinala o centenário da sua morte, com a seguinte programação:

MOSTRAS DOCUMENTAIS
D. João da Câmara, Vida e Obra – mostra bibliográfica e documental que tem por objectivo revisitar a obra literária de D. João da Câmara (1852-1908), com destaque para a sua actividade como dramaturgo e jornalista. Reúne documentação (livros, periódicos, outros documentos) proveniente das colecções da Hemeroteca, de outras bibliotecas municipais e de particulares.
Local: Hemeroteca Municipal de Lisboa _ Átrio e Escadaria. Data: Inauguração: 2 Janeiro. Em exibição ate 31 de Janeiro.

CONFERÊNCIAS
D. João da Câmara, 100 Anos Depois (1908-2008) – ciclo de conferências

1.ª Conferência:
D. João da Câmara, Jornalista, por António Valdemar (Expresso)
10 Janeiro, 18H

2.ª Conferência:
D. João da Câmara, Poeta e Ficcionista, por Ernesto Rodrigues (UL/FL)
17 Janeiro, 18H

3.ª Conferência:
D. João da Câmara e o desenvolvimento dos caminhos-de-ferro oitocentistas, por Jorge Trigo (CML/HML)
24 de Janeiro, 18H

4.ª Conferência:
D. João da Câmara, Dramaturgo, por Ivo Cruz (Investigador e Historiador do Teatro)
31 de Janeiro, 18H

Local das conferências: Hemeroteca Municipal – Sala do Espelho

DIGITAL
Hemeroteca Digital – Conteúdos Digitais: no âmbito do Centenário da Morte de D. João da Câmara (1808-2008) a Hemeroteca Municipal irá colocar na Internet alguns conteúdos informativos e documentos relacionados com esta efeméride, como, por exemplo, textos jornalísticos, uma nota biográfica, os livros que os investigadores e leitores poderão encontrar nas bibliotecas municipais de Lisboa de e sobre D. João da Câmara, entre outros recursos informativos, como sites e blogs. Um manancial de dados e informações, agora à distância de um simples clique, na Hemeroteca Digital, em http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/

Aproveite e dê um salto à biblioteca do efémero...