Thursday, June 14, 2007

É a Cultura (Municipal), Estúpido!


O último debate no S. Luis, intitulado "Quem vai mandar na cultura em Lisboa?", contou com a presença de Helena Freitas, independente pelo PS, David Ferreira, do Bloco de Esquerda, Manuela Júdice, da candidatura de Helena Roseta, Filipe Diniz, que não é candidato mas que representou a lista da CDU, Teresa Leal Coelho, pelo PSD, e Teresa Caeiro, do CDS, com moderação de Anabela Mota Ribeiro e Nuno Artur Silva. A lista de Carmona também foi convidada mas optou por não responder a tempo ao convite. Supostamente, uma destas criaturas será o (a) próximo(a) vereador(a) da cultura da edilidade lisboeta. Para mal dos nossos pecados, pelo que ouvimos. O debate tinha por objectivo conhecer as ideias dos candidatos para uma área que é cada vez mais importante na administração das cidades, a cultura. Mas o debate foi de uma pobreza confrangedora. Esperava-se, pelo menos, algum trabalho de casa e um conjunto articulado de ideias para a cultura municipal. Nem uma coisa nem outra. Os convidados lançaram para o ar projectos atrás de projectos, intenções sobre intenções, acompanhadas das banalidades do costume. Revelando, desta forma, um desconhecimento atroz da realidade cultural da CML, e mesmo financeira, o que explica, aliás, muitos dos disparates que ali foram ditos. Então não é que David Ferreira, por exemplo, advogava a reabertura do Museu Rafael Bordalo Pinheiro!!! Pois é, tal e qual!!! O dito museu foi reaberto em 2005, aquando do centenário da morte do caricaturista, mas sempre podemos reabri-lo outra vez, para gáudio do candidato do Bloco para a Cultura. Manuela Júdice, por seu lado, lamentava a ausência de actividade no Cinema S. Jorge!!! Pois é, tal e qual!!! Faça-se justiça: das poucas coisas de relevo realizadas pelo actual executivo na área da cultura a quase reabilitação do S. Jorge foi uma delas, dotando este equipamento de uma programação de qualidade na área do cinema, o que é de todo desconhecido para a candidata de Helena Roseta. Outros lamentavam-se da falta de roteiros culturais, da percepção da actividade cultural do município, do excesso de automóveis, da falta de passeios, demonstrando uma ignorância de bradar aos céus pelo que é a cultura municipal, pelo que foi feito, pelo que não foi feito, pela orgânica da dita, enfim, deixando a plateia literalmente siderada pelo que brotava daquelas cabeças. Sabemos que a coisa ainda agora começou mas tamanho desconhecimento dos dossiês não augura nada de bom. Então quando o debate tentou subir de nível a impreparação revelou-se em todo o seu esplendor. Nenhum dos candidatos ainda percebeu que, ao lado dum diagnóstico rigoroso da situação cultural da CML, que naturalmente pressupõe o conhecimento da sua orgânica, dos seus equipamentos e actividade, das suas necessidades prementes, e já agora das muitas dívidas aos fornecedoras, impõe-se a definição de uma política cultural para a cidade. E que política deve ser esta? Uma política mais intervencionista, com projectos e/ou programas próprios, protagonizados pela CML? Deve esta, numa linha mais liberal, tratar apenas das suas "pedras", isto é, do seu património e serviços? Ou, pelo contrário, optar por uma política meramente facilitadora de apoios e subsídios, atribuídos com critério, e sujeitos a uma rigorosa avaliação dos resultados? Uma combinação das três? Sobre isto pouco ou nada de substantivo disseram, como se estas não fossem as questões centrais que importa esclarecer antes de definir qualquer projecto ou programa político para a cultura municipal. Só depois disto se poderá pensar num programa, com uma adequada oferta cultural à cidade, às pessoas que vivem nela, ajustado à melhor orgânica para o executar, com o dinheiro disponível, que, como sabemos, não abunda. A sensação que ficou foi a de novo paraquedismo político, desta vez na cultura. A ver vamos...

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