Thursday, May 31, 2007

"Eduquês", português....

Ficámos esta semana a conhecer o interesse do Ministério da Educação pela língua portuguesa. O Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE) deu ordens para que nas primeiras partes das provas de aferição de Língua Portguesa do 4.º e 6.º anos, os erros de construção gráfica, grafia ou de uso de convenções gráficas não fossem considerados. Custa a acreditar, mas é verdade! Deu ordens mas naturalmente não deu explicações. Resultado: nas ditas "provas" foi uma alegria. E valeu tudo, desde tratar um sujeito como predicado, usar um "ç" em vez de dois "s", até, pasme-se, inventar palavras! As pérolas são mais que muitas, alguns exemplos: à pergunta "Pensas que a mãe da Ana acreditava em criaturas fantásticas?" encontramos respostas como "Não porque a mãe costamão disse os filhos não a criaturas fantásticas" ou "Penso, que não porque ela sabia que não existiu"!!! Mas o mais extraordinário é que estas respostas são pontuadas!!! Como do GAVE não saiu, nem podia sair, nenhuma explicação para tão aberrante decisão nada como tentar adivinhar os luminosos critérios da 5 de Outubro. E foi isso que aconteceu. Da Associação de Professores de Português pensa-se que a ideia do GAVE passa por avaliar em separado as competências da leitura das competências da escrita, e que na primeira parte, de análise de texto, se avalie apenas se os alunos o compreenderam. Os professores, cautelosos, não vá o diabo, ou melhor, a delação, tecê-las, são cautelosos, falando em critérios contraditórios com o investimento do Estado na língua portuguesa, enquanto outros se sentem naturalmente traídos. Perguntamos nós: que sentido faz avaliar separadamente as ditas competências? Com esta decisão como é que se sabe se o aluno de facto compreendeu o texto se, depois, a resposta tem uma construção frásica incompreensível? Devemos olhar para o lado se o aluno não consegue exprimir o que entende? Como é que se sente o aluno que respondeu correctamente às perguntas e é confrontado com a valorização do erro? E os professores, depois de um ano a exigir aos alunos respostas completas, bem construídas e sem erros? Para o GAVE vale tudo menos saber escrever português. Isso não deu pontos. Mas não deixará de contribuir para a iliteracia reinante entre os indígenas, com a benção do Ministério da Educação. O que vai na cabeça desta gente, que penaliza o esforço e o trabalho e bate palmas ao facilitismo? Este era sem dúvida um bom pretexto para uma desobediência civil generalizada contra este dirigismo bacoco. Mas não, pois parece que tudo vai bem, no reino do "eduquês", português...

Tuesday, May 29, 2007

O novo lápis azul


Os sinais são mais que muitos. A Entidade Reguladora para a Comunicação Social, vulgo ERC, não pára de nos surprender. Desta vez virou-se, qual cão de caça, para a imprensa económica. Esta que se cuide, pois o objectivo da coisa é saber, pasme-se, se existe influência dos grupos económicos nas notícias publicadas nos jornais, revistas e suplementos económicos. Na prática, trata-se de uma resposta a mais uma queixinha, publicada no Público, sob a forma de texto de opinião, de um grupo de economistas que não gostaram da forma como os jornais económicos cobriram o Compromisso Portugal. Vai daí, a ERC, mais papista que o próprio papa, resolveu agir. Depreende-se que para justificar a sua própria existência, já de si duvidosa, pois numa democracia liberal a sério, que não é o caso, não existem quaisquer leis e muito menos entidades reguladoras para proteger a liberdade de imprensa. Esta é praticada e respeitada pelos jornalistas e pelo poder político, num mercado livre sujeito ao escrutínio, não do Sr. Azeredo Lopes, presidente da ERC, e restantes membros, mas do público. Como esta gente desconfia do mercado inventa os mais mirabolantes pretextos para censurar os jornais, senão repare-se: "Queremos definir com clareza o que são poderes de influência, em que medida o próprio mercado é factor de influência [sic!!!] e também se as publicações estão ou não excessivamente ligadas a poderes económicos" (Azeredo Lopes, DN, 27 Maio), ou "identificar ameaças", as palavras são de Estrela Serrano (Ibidem), que os grupos económicos, os terríveis grupos económicos, poderão incutir ao rigor e liberdade de informação. E, num excesso de zelo, acrescenta que a monitorização (não será censura?) das notícias divulgadas pelos jornais, revistas e suplementos económicos dos generalistas será feita "ainda no primeiro semestre deste ano". Mas depois lá adiantam, para sossegar os espíritos, que a "ERC não está sistematicamente obcecada em massacrar os jornalistas ou em teorias conspirativas". O que eles pretendem esclarecer é se as "insinuações" que muitas vezes surgem em torno do jornalismo económico têm ou não fundamento. Mas que insinuações? Dos economistas queixeinhas? Do governo ou dos ministros visados pelos jornais? É claro que as reacções não se fizeram esperar, com críticas a esta nova deriva censória pós-moderna. Daqui se conclui que a ERC desconhece por completo o papel da imprensa numa democracia liberal. E que papel é este? "Funcionar como contra-peso (e não como contrapoder ou como quarto poder) e, ao mesmo tempo, ser um dos espaços onde o povo tem voz" (José Manuel Fernandes, Público, 29 Maio). Ora, isto só se consegue com o máximo de liberdade de expressão, responsabilidade e um mercado livre sujeito ao escrutínio público. Em 1858 John Stuart Mill escrevia: "falando de um modo geral, não é compreensível que, em países constitucionais, o governo, quer seja, ou não, totalmente responsável perante o povo, tente muitas vezes controlar a expressão de opinião, pois, ao fazê-lo, ele torna-se o órgão de intolerância geral do público". Premonitório? Pergunte-se à ERC...

Monday, May 21, 2007

Obituário: Alfred Chandler (1919-2007)


Morreu o "pai" da História Empresarial, Alfred D. Chandler, no passado dia 9 de Maio, com 88 anos de idade, vítima de paragem cardíaca. O seu trabalho na História Empresarial começou no Massachusetts Institute of Tecnology (MIT), onde estudou diversas empresas, como o gigante químico DuPont, a General Motors ou a Standart Oil (actual Exxon). Da investigação surgiu o livro Strategy and Structure (1962), obra que marcaria profundamente os anos 60. Em 1977 publicou The Visible Hand: The Managerial Revolutions in American Business, trabalho que lhe valeu o prémio Pulitzer. É aqui que introduz pela primeira vez o conceito de "managerial enterprise", empresa onde o gestor é assalariado e não proprietário. À teoria da "mão invisível" de Adam Smith que faz funcionar os mercados Chandler respondeu com a "mão visível" da gestão moderna. Três anos depois, em 1980, saiu Managerial Hierarchies. Em 1985, com Richard Tedlow, publicou The Coming of Managerial Capitalism. Na década de 90 destaque para 3 livros igualmente importantes: Scale and Scope: The Dynamics of Industrialized Capitalism, Big Business and The Wealth of Nations e The Dynamic Firm. Com Chandler a História Empresarial adquire uma nova visão, deixa de estar preocupada apenas com a evolução de empresas ou empresários singulares, para passar a existir uma perspectiva comparativa, quer entre indústrias, quer em termos transversais, baseada num adequado enquadramento teórico. O que lhe interessava saber era como é que as coisas se passavam num determinado momento, como eram feitas mais tarde, e os motivos para a mudança: "o que conta são as pessoas, as suas capacidades, conhecimento e experiência", disse. Explicou, por exemplo, como é que a Alemanha se tornou numa das maiores potências industriais na Europa antes da Segunda Guerra Mundial, ou como os EUA se transformaram no país mais produtivo do mundo até 1960 e o Japão se posicionou como o seu concorrente mais bem sucedido. No ensino da gestão foi também um pioneiro, colocando a estratégia antes da estrutura, mudando o pensamento académico ao considerar que era impossível olhar apenas para os agregados macroeconómicos e pensar que, assim, se conhecia a realidade. Do MIT passou para a Harvard Business School, onde se reformou em 1989, depois de uma longa carreira como professor de História Económica. Chegámos até ele através de Jorge Borges de Macedo, dos poucos que conhecia bem a importância da obra de Chandler, num remoto Seminário de Áreas Empresariais e Legislação Económica, na Faculdade de Letras de Lisboa. Velhos e bons tempos...

Thursday, May 17, 2007

Eleições em Lisboa, ontem como hoje




Voltando à actualidade política, que é como quem diz, à CML. Afinal, os candidatos apareceram como cogumelos. Para uma câmara que está falida, não deixa de ser surpreendente! Do lado do PS, surge-nos António Costa, numa aposta de alto risco de Sócrates, que subiu a parada. Se perder, será a quarta derrota consecutiva do secretário geral do PS e do primeiro-ministro, depois do partido quase desaparecer da Madeira. Mas o risco também pende para Costa, dado o carácter pessoal que estas eleições vão ter. Para quem estava numa posição confortável no governo louve-se a iniciativa. Louve-se também a carta branca que Sócrates deu a Costa para formar a sua equipa, livrando-se dos veredores do PS que até há pouco tempo fraca e triste figura faziam, com discussões de cadeiras, opiniões contraditórias, tacticismos políticos da pior éspecie, tudo a bem de Lisboa, calcula-se! Igualmente positivo é a nomeação de José Miguel Júdice para mandatário da campanha com Saldanha Sanches a tratar da contabilidade. O arquitecto Manuel Salgado está na lista, em número dois, dizem, bem como Ana Sara Brito, o que abona a favor. Resta-nos esperar pelos restantes nomes e, mais importante, pelo projecto que António Costa quer para a Cidade. Do lado do PSD, a montanha pariu um rato: Fernando Negrão, vindo de Setúbal, depois de várias recusas de figuras de topo. Uma desilusão, por melhores que sejam as suas qualidades pessoais e profissionais. Politicamente, Negrão é uma figura de segunda linha, irrelevante, ainda por cima, coisa extraordinária, arguido ou pseudoarguido num caso da Câmara de Setúbal. Como esclareceu Pacheco Pereira a candidatura é meramente presencial. Outros, escondidos, falam em derrocada eleitoral. Não havia mais ninguém? Mas Negrão já descansou as hostes, batendo forte e feio em Costa e, pasme-se, informando o povo, para seu sossego, que vai voltar com alguns dos vereadores renunciantes, porque, as palavras são suas, "fizeram um excelente trabalho"!!! Só se foi no aumento da despesa e no desgoverno da cidade e dos serviços. Quanto à dívida, coisa fácil de resolver para Negrão, chamam-se as universidades (!!!) e umas empresas de consultoria, e já está. Teme-se o pior! E Mendes que se cuide, pois um desaire eleitoral em Lisboa precipitará eleições directas no partido. Helena Roseta, a candidata a candidata independente, recolhe desesperadamente assinaturas, pelo que ficamos a aguardar pelas novidades. Mas uma coisa já sabemos, que Roseta não gosta da ideia de o seu movimento se coligar com os partidos. Sá Fernandes, pelo contrário, diz que há muitas formas de fazer coligações. O problema é que vai disputar o mesmo eleitorado que a candidata a candidata. Vai daí, conversou com Roseta, que não gosta de coligações, e vai continuar a conversar com os outros candidatos de esquerda para constituirem uma lista única, encabeçada por Costa. A única coligação até agora, a CDU, que já disse que não quer nenhuma coligação, pelo menos com os socialistas, disparou sobre Costa, a quem simpaticamente apelidou de "inimigo do poder local". Sobre a cidade, nada. Manuel Monteiro estará igualmente presente como candidato, só não sabemos para quê. Ou melhor, sabemos: para acabar com as empresas municipais. Bom, a ideia até não é má. O CDS continua sem dar cavaco. Por último, temos o candidato a candidado a candidato independente, Carmona Rodrigues. Sim, Carmona Rodrigues, o próprio, supõe-se que com o trio maravilha Fontão de Carvalho, Pedro Feist e Gabriela Seara, como apoiantes. Assim seja. Os lisboetas terão pois a oportunidade de desfazer mais um mito, a bem da governança local.

Wednesday, May 16, 2007

Jornalismo e Democracia


A revista JJ (Jornalismo & Jornalistas) dedica o seu último número, o 29, de Janeiro/Março, ao tema referido em epígrafe. Na prática, é o resultado do II Seminário Internacional Media, Jornalismo e Democracia, que reuniu diversos académicos portugueses e estrangeiros na Escola Superior de Comunicação Social, em Lisboa, e que teve por objectivo um debate sobre as complexas relações entre os media e a política em democracia. O número inclui um dossiê sobre o tema, com uma nota de Marisa Torres da Silva, entrevistas a 3 reputados investigadores estrangeiros (Doris Graber, Kees Brants e James Stanyer) e ainda 2 das comunicações ali apresentadas: uma de Luís Bonixe (ESEP), intitulada "A cobertura radiofónica da campanha presidencial de 2006" e outra de Marta Pérez Pereiro (USC), "El cómic periodismo como nuevo género interpretativo del periodismo impresso". Na primeira o autor sustenta que a dita cobertura caracterizou-se pela difusão de sons emotivos que potenciaram os discursos inflamados dos candidatos e as críticas entre adversários, lamentando a quase ausência de temas de interesse público. Marta Pérez Pereiro mostra como a imprensa humorística pode relacionar-se de forma directa com os géneros interpretativos da imprensa tradicional. Para o efeito, pega no trabalho jornalístico de Joe Sacco, autor do albúm cómico Gorazde. Zona protegida, comparando-o com as peças humorísticas publicadas no El pais (1994-95). Na secção em "Análise" destaque para um artigo de Helena de Sousa Freitas (LUSA), sobre o "Jornalismo de ambiente em Portugal: espécie em vias de extinção?". Entre os livros recenseados contam-se o Le fin de la télévision, de Jean Louis Missika, por Vanda Ferreira, e Primeiras Páginas - O século xx nos jornais portugueses, de Luís Trindade, por Carla Baptista. Por último, nas "Imagens do Repórter", a JJ presta uma homenagem a Fernando Ricardo, repórter fotográfico do jornal A Capital, já desaparecido, numa bela selecção de imagens, a preto e branco. A ver...

Monday, May 14, 2007

Da malfadada competitividade...


A notícia passou despercebida pelo jornais (na televisão, nem vê-la!!!) , entretidos que andam com as trapalhadas da CML. Mas a notícia é preocupante e consta do seguinte: Portugal caiu para 39.º lugar do ranking da competitividade mundial elaborado pelo Institute for Management Development (IMD), num total de 55 países. O Governo apressou-se a sossegar os ânimos, desvalorizando a notícia, não pela voz do primeiro-ministro, que o assunto não é sério, mas do coordenador nacional da Estratégia de Lisboa, Carlos Zorrinho, também responsável por um dos muitos planos que o executivo socialista, à boa maneira dos planos quinquenais do "saudoso" Estaline, tem no terreno: falamos do Plano Tecnológico. E o que disse esta criatura: "Portugal desceu porque entrou um país novo no ranking com melhores indicadores, a Lituânia, e porque, entre os países avaliados, somos os que estamos a crescer menos". A Lituânia!!! Está tudo dito. Quando outras "Lituânias" entrarem, o que será de nós? Somos os que estamos a crescer menos!!! Que novidade. Talvez seja por isso que voltámos a cair no dito ranking, não? Como se não bastasse, Zorrinho ainda ataca a avaliação do IMD, pois "alguns dos indicadores são manifestamente inadequados para avaliar a realidade portuguesa", dotada, calculámos nós, de uma especificidade que nos escapa, a nós, e aos autores do relatório!!! Mas há mais, pois Zorrinho acredita piamente na subida do índice de qualidade de governação socialista, que, a "prazo, vai reflectir-se no crescimento económico", só não sabemos quando, nem de que maneira, mas, a prazo, acontecerá, acredita Zorrinho. Como a eficiência empresarial indígena é um desastre o inenarrável Zorrinho desculpa a coisa devido à pouca "apetência das empresas portuguesas para responder a estes inquéritos". Pois... Resta-nos o consolo de não estarmos sozinhos nesta descida, que é acompanhada pela França (28.º lugar), Itália (42.º) e Espanha (30.º). E, adivinhem quem está em primeiro? Os EUA, essa "malvada" economia. Muito próximos da primeira potência temos a Singapura (2.º lugar), Hong Kong (3.º), China (15.º) e Índia (27.º), com a Rússia (43.º lugar) a registar a progressão mais rápida do mundo. O crescimento das "economias emergentes" leva o IMD a temer o aparecimento de um proteccionismo "subtil" na Europa e nos EUA, sobretudo em matérias como a protecção ambiental, propriedade intelectual e os direitos sociais, com inevitáveis práticas anticoncorrenciais. Por cá, não ocorre ao Zorrinho que a competitividade passa, em primeiro lugar, por menos impostos, menos burocracia, e uma legislação laboral mais liberal, tudo coisas estranhas à governação socialista. Para saber mais sobre este relatório, ver www.imd.ch

Thursday, May 10, 2007

Liberalismo e Democracia

Este é o tema principal do último número (55/56/57- Inverno 2005/Primavera-Verão 2006) da Finisterra, Revista de Reflexão Crítica. Inclui ensaios de Eduardo Lourenço, "A Máquina Infernal ou do Liberalismo na Era da Mundialização", de Fernando Pereira Marques, "Emancipação Política e Emancipação Humana", de Joaquim Jorge Veiguinha, "Os Limites da Democracia Liberal", de Diogo Moreira, "Democracia e Liberalismo: do Liberalismo Político à Democracia Social", de Elísio Estanque, "A Questão Social e a Democracia no Início do Século XXI - Participação Cívica, Desigualdades Sociais e Sindicalismo". Na secção "Da Memória" a revista presta homenagem a Mário de Sottomayor Cardia, com um texto inédito da sua autoria, "Nota Biográfica", destinada a servir de base a um volume de memórias, e com "Salazar, Abril e o Presente", igualmente da pena do homenageado. O primeiro vale sobretudo pelo modo como Sottomayor Cardia retrata o seu afastamento do marxismo (curiosamente recuperado no ensaio de Lourencço, a que voltaremos) e sintetiza a sua concepção do socialismo democrático. O segundo, de grande actualidade, pela reflexão proposta sobre as qualidades necessárias para o bom político, à luz da sua experiência. Destaque ainda para a secção "Das Ideias", e para os textos de Vital Moreira e André Freire, respectivamente "A Receita de Sócrates" e "Do reformismo à Resignação? Uma Análise de (quase) Dois Anos de Governo do Partido Socialista". Reservamos para um próximo post algumas considerações sobre a "máquina infernal" do guru da esquerda portuguesa.

Wednesday, May 9, 2007

Era uma vez uma câmara...

A Câmara Municipal de Lisboa caiu. Segundo testemunhas, de podre, literalmente. Mas parece que só cai definitivamente à meia-noite, mistério dos mistérios!!! Segue-se uma comissão administrativa, nomeada pelo governo, como não podia deixar de ser. Aguarda-se com grande expectativa o nome dos salvadores! A dita vem tomar conta da coisa e dos seus 11.000 funcionários, que é como quem diz em linguagem de burocrata, da "gestão corrente e dos processos inadiáveis". Resta-nos a oportunidade criada, que é de ouro, pelo que se espera que os partidos políticos e a sociedade civil estejam à altura do desafio e a aproveitem bem. A democracia local assim o exige. Exigimos dos partidos e da sociedade civil candidatos fortes, com coragem, leia-se candidatos que não estejam reféns das estruturas locais (Deus nos livre...) dos seus partidos, com qualidade e preparação política. Candidatos que não invadam as vereações com liliputianos quadros locais à procura do primeiro (ou do definitivo) emprego. Candidatos com arte para mobilizar a sociedade civil e os parceiros locais e formar equipas de excelência, conhecedoras dos problemas, que são muitos, da cidade. Candidatos que saibam mobilizar igualmente os funcionários, dando-lhes condições de trabalho, autonomia e confiança. Candidatos que amem Lisboa, respeitem os seus munícipes, e que não vejam o exercício da sua actividade como um trampolim para outros voos políticos. Candidatos que saibam separar o trigo do joio, pois a câmara não pode, de maneira nenhuma, continuar a apoiar tudo e todos, sem critério, sem fiscalização, sem retorno. Os munícipes agradecem, assim como os colaboradores da autarquia. Lisboa precisa sofregamente de um projecto e de um estratégia, de visibilidade internacional e liderança cultural, de finanças saneadas e organização, de qualidade de vida e desenvolvimento sustentável, de coisas simples como as ruas limpas, prédios reabilitados, carros controlados, respeito pelas regras urbanísticas, escolas funcionáveis, entre outras. Numa palavra: arrumar a casa, definir prioridades e trabalhar. Lisboa precisa de um milagre? Os dados estão lançados...

Jornalistas: do ofício à profissão. Mudanças no jornalismo português (1956-1968)


Assim se intitula o novo livro de Fernando Correia e Carla Baptista, acabadinho de sair das tipografias, numa edição da Caminho, com o apoio do ICS. Com ele pretende-se fazer não a histórida desse período, "mas reunir testemunhos de experiências e opiniões que para essa história viessem a contribuir, nomeadamente no que se refere a aspectos a que, entre nós, se tem dado pouco relevo enquanto objectos de estudo, como as concepções de jornalismo e o lugar do jornalismo e dos jornalistas nas empresas e na sociedade, as rotinas produtivas e a organização e funcionamento das salas de redacção, a identidade e a cultura profissionais". (da Nota Prévia) O resultado é um excelente e analítico retrato da forma como os jornalistas portugueses foram construindo um território profissional, orientado por valores éticos e humanos e definido pela posse de competências e saberes específicos. Esse percurso foi lento e acidentado, ora na onda de transformações sociais que os estimulavem ora - as mais das vezes - interrompido e violentado por circunstâncias históricas e políticas com uma fortíssima capacidade de intromissão no campo jornalístico. Não menos importante: os autores mostram que, durante o Estado Novo, apesar da censura, o jornalismo não morreu. Pelo contrário, o que encontramos é um período que foi decisivo para a construção da profissão e do jornalismo português, com todos os seus defeitos e virtudes. Recomenda-se...

Tuesday, May 8, 2007

Fialho de Almeida, 150 Anos Depois


Assinalam-se este ano os 150 anos do nascimento de Fialho de Almeida (1857-1911). As comemorações iniciaram-se na sexta-feira passada, dia 4 de Maio, em Vila de Frades (Concelho da Vidigueira), terra natal do homenageado. Rezam as crónicas que serão continuadas em Lisboa, com o inevitável apoio da autarquia, se a turbulência política vivida por esta assim o permitir. Mas, quem foi Fialho de Almeida (FA)? Escritor e jornalista, FA faz parte por mérito próprio do albúm de glórias das letras portuguesas de oitocentos. Em 1866 veio para Lisboa, para o Colégio Europeu, fazer os estudos elementares, que seguiu até 1872. Em 1885 conclui o Curso de Medicina, na Escola Médico-Cirúrgica, de pouca utilidade, diga-se, pois só fugazmente viria a exercer a actividade clínica. A vocação inclinava-se desde cedo para a literatura e o jornalismo panfletário. Funda, em 1880, a revista literária A Crónica. Um ano depois publica o seu primeiro livro, os Contos, dedicado a Camilo Castelo Branco, e no ano imediato A Cidade do Vício. Dirige, anos mais tarde, A Ilustração, saindo também nesta altura O País das Uvas (1889). FA colabora ainda em muitos outros jornais e publicações da época, escrevendo folhetins, crónicas, contos, críticas literárias e teatrais. Mas é com Os Gatos que FA se vai impor definitivamente no meio literário e intelectual lisboeta. Publicados entre Agosto de 1889 e Janeiro de 1894, os panfletos, com o nome d'Os Gatos, eram uma espécie de crónica mensal da vida portuguesa, mas o sucesso foi tão grande que, de mensal, a crónica, passou a semanal. O êxito das Farpas de Ramalho Ortigão dera o mote para tal empreendimento. E Os Gatos são hoje, sem dúvida, uma das principais obras panfletárias da cultura portuguesa, tão características da literatura jornalística e combativa do final do século XIX. Aí se encontram, também, algumas das mais célebres páginas de FA, como as sobre O Violinista Sérgio e o Enterro de D. Luís. O estilo é unico, tal como a violência das palavras, para grande escândalo dos contemporâneos. Politicamente, o que vemos n'Os Gatos, reunidos em seis volumes, é um FA crítico feroz da Monarquia , mas também da República, heterodoxia que lhe valeu muitos inimigos e dissabores: pouco depois do 5 de Outubro de 1910, por exemplo, quando as suas críticas ao governo republicano subiram de tom, foi ameaçado de expulsão do país. Por outro lado, "a atitude iconoclasta do panfletário, o riso de gárgula escarninha, o anarquismo ideológico demarcam-no quer da Geração de 70 (nomeadamente de As Farpas), quer do Realismo/Naturalismo oitocentista que Eça representa". (Isabel Cristina Mateus) Não menos importante, para alguns até o mais "revolucionário" em FA, é a sua concepção estética e a sua prática literária. Na primeira, destaca-se o papel pioneiro de FA na leitura (crítica de arte) e na valorização das artes plásticas em Portugal, indissociável de um espírito atento à modernidade artística europeia (impressionismo). Na segunda, a novidade da sua escrita, que o próprio define como "uma alucinação doida e disforme", fragmentária, por vezes grotesta, com uma clara vocação expressionista, com influência decisiva em escritores como Raul Brandão, que sobre ele muito escreveu (Cf. Memórias). Tudo razões suficiente para revisitarmos FA e a sua obra, 150 anos depois...

Monday, May 7, 2007

Para além do óbvio, na CML

A situação política na CML bateu no fundo. Para o comum dos mortais todo este espectáculo é degradante. Pior, talvez no Burundi!!! Vislumbra-se, com alguma dificuldade, uma luz ao fundo do túnel. O mérito, faça-se justiça, deve ser atribuído a Marques Mendes. Ainda que tarde, clarificou, de vez, o impasse vivido na maior autarquia do país. As eleições tornaram-se inevitáveis. Marques Mendes marcou pontos e a agenda política face ao PS. Mas mais importante que tudo consolidou a recente doutrina, inaugurada pelo seu PSD quando não apoiou a candidatura de autarcas suspeitos de crimes graves, como eram os casos de Isaltino Morais e Valentim Loureiro. O que está em causa não é a simples constituição de alguém como arguido. A inibição para o desempenho de cargos públicos só deve acontecer, como explicava José Manuel Fernandes, em editorial do Público, "quando os crimes de que se é acusado estão directamente relacionados com o exercício da actividade política e implicam uma suspeita de que se actuou com menor probidade". Ora, foi esta a leitura que Marques Mendes fez, que é, em primeiro lugar, uma leitura política. Agravada por um conjunto de factores que tornam o bom governo da cidade de Lisboa impossível, com o passivo (cerca de 1300 milhões de euros!!!) à cabeça. Resta-nos esperar que o bom senso prevaleça. A bola está agora do lado da oposição e naturalmente do presidente. A ver vamos.

Novamente a regionalização...

Sub-repticiamente, distraídos que andamos com as habilitações académicas do nosso primeiro-ministro, a dita reemerge, lentamente, mas reemerge. Quando julgávamos que a questão estava resolvida, eis que volta, com as suas supostas virtualidades e necessidade, lançadas pelos teóricos do costume. Pelos vistos nada aprenderam com o referendo de 1998, com o rotundo não do povo. As condições políticas do país mudaram desde então? Parece-nos que não. Os motivos do chumbo de 98 alteraram-se? Também não. Pelo contrário, agravaram-se: há menos dinheiro nos cofres do Estado, daí os cortes nas suas funções. A tendência é para simplificar, desburocratizar, municipalizar. Mas os "regionalizadores" insistem, insistem, e só desistirão quando ficarem saciados, com as suas clientelas políticas. Portugal não precisa de mais Estado, seja ele desconcentrado ou descentralizado regionalmente. Portugal não precisa, de todo, de um novo nível de poder autárquico entre os municípios e a administração central. Portugal não precisa (livre-se antes deles) de novos caciques regionais. O país é pequeno demais. O dinheiro não abunda. O contribuinte não pode pagar nem mais um cêntimo para um Estado que precisa, antes de tudo, de emagrecer radicalmente, e não de engordar - o que aconteceria inevitavelmente com a regionalização. Quem financiaria esta? Que cabeças ilustres ficaríam incumbidas de novo mapa regional? Não lhes ocorre que ainda não foram exploradas todas as potencialidades das autarquias locais. Se há problemas que ultrapassam a sua esfera de acção, a solução não passa pela regionalização, pela instituição de novas entidades regionais, mas sim pela cooperação intermunicipal, aliás, como já acontece. Continuaremos...

Dia Mundial da Liberdade de Imprensa


Assinalou-se a 3 de Maio o dia acima referido. Para não esquecer a data a Hemeroteca Digital (http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/) colocou em linha uma pequena pérola literária do Padre José Agostinho de Macedo (1761-1831), juntamente com a biografia deste. Exorcismos contra Periódicos e outros Malefícios, assim se intitula o libelo escrito em 1821, visando os jornais que então proliferavam pelo país. Criados como cogumelos depois da Revolução Liberal de 1820, os periódicos eram vistos pelo autor como uma praga, cujo dano era comparável ao que “o Pulgão causa às vinhas do alto, e do baixo Douro, e de toda a parte”. Mas há mais, muito mais, pelo que a consulta é quase obrigatória. O paradoxo da edição desta obra na Internet no dia em que se assinalou a liberdade de imprensa é aparente pois o que estes Exorcismos traduzem mais não é do que a importância que os jornais sempre tiveram na formação de uma opinião pública crítica e informada e no debate de ideias. Uma leitura incontornável, e de grande actualidade, face ao recente intervencionismo do Estado na comunicação social portuguesa. A não perder.