Saturday, May 10, 2008

HUMBERTO DELGADO - Cinquentenário das Eleições Presidenciais de 1958

No passado dia 7 de Maio tiveram início as Comemorações do Cinquentenário das Eleições Presidenciais de 1958, com o lançamento, na Assembleia da República, do livro Humberto Delgado. Biografia do General Sem Medo, de Frederico Delgado Rosa (neto de Delgado), publicado pel'A Esfera dos Livros.

As eleições de 58, sabemos hoje, representaram uma expectativa de mudança para grande parte da população portuguesa. Numa conferência de imprensa em Lisboa, no café Chave de Ouro, Humberto Delgado surpreenderá tudo e todos com o célebre “obviamente demito-o”, respondendo assim a uma pergunta de um jornalista estrangeiro sobre o destino a dar ao Presidente do Conselho, António de Oliveira Salazar, caso fosse eleito. A candidatura de HD terá um grande impacto, nacional e internacional, para surpresa dos analistas políticos da época. Emerge por todo o país um clamor anti-salazarista, uma onda de entusiasmo pelo “general sem medo”, uma efervescência de libertação anunciada que expõe um insuspeito estado de radical saturação dos portugueses com o regime aliada a um interesse vindo de fora pelo rumo que Portugal tomaria se HD vencesse as eleições presidenciais de 1958.

A CML, através da Direcção Municipal de Cultura, associa-se a estas comemorações com um programa conjunto de actividades culturais e educativas promovidas pelos seus serviços e equipamentos, com um triplo objectivo: assinalar os 50 anos da campanha presidencial de HD; promover a reflexão sobre este acontecimento no quadro da oposição política ao Estado Novo; revisitar a campanha de HD na cidade de Lisboa e a mobilização popular lisboeta em torno da sua candidatura.


O programa é o seguinte:

HOMENAGEM
Lisboa – Estação de Santa Apolónia
Homenagem da Cidade de Lisboa ao General Sem Medo – Descerramento de lápide evocativa da chegada de Humberto Delgado à Estação de Santa Apolónia em Maio de 1958. Com a presença do Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, e actuação de Carlos do Carmo
Data: 16 de Maio, 15.30h

EXPOSIÇÕES
“A campanha presidencial de Humberto Delgado nas Beiras e Trás-os-Montes” - Exposição de fotografia de Miguel Ramalho
Local: BMRR-CU (Auditório)
Data de inauguração: 17 de Maio de 2008, 15h

“Humberto Delgado, Vida e Obra” - Mostras bibliográficas organizadas a partir das colecções das Bibliotecas da Rede Municipal de Bibliotecas de Lisboa e do GEO.
Locais: Hemeroteca Municipal, BMRR – CU, BM Alvalade e GEO.
Data: durante o mês de Maio

CONFERÊNCIAS & COLÓQUIOS
A Campanha Presidencial de Humberto Delgado, 50 Anos Depois (1958-2008) – Ciclo de Conferências
1.ª Conferência: “A campanha presidencial de Humberto Delgado na imprensa portuguesa”, por Nair Alexandra. Data: 9 de Maio, 18.30 h
2.ª Conferência: “Henrique Galvão e o candidato Humberto Delgado”, por Eugénio Montoito. Data: 13 de Maio, 19 h
3.ª Conferência: “A campanha presidencial de Humberto Delgado nas Beiras e Trás-os-Montes”, Miguel Ramalho. Data: 17 de Maio, 16 h
4.ª Conferência: “A campanha presidencial de Humberto Delgado em Lisboa”, por Iva Delgado. Data: 29 de Maio, 18.30 h
Local das conferências: Biblioteca Museu República e Resistência – Espaço Cidade Universitária


MESAS REDONDAS
“A campanha eleitoral do general Humberto Delgado – balanço histórico” – Mesa Redonda com a participação de Iva Delgado, Frederico Delgado Rosa, Lauro António e de Dalila Mateus. Moderação de José Manuel Garcia (GEO). Inclui:
- Projecção do documentário "Humberto Delgado: o general sem medo”;
- Apresentação do livro Humberto Delgado. Biografia do General Sem Medo, de Frederico Delgado Rosa (Edição Esfera dos Livros).
Local: GEO – Palácio Beau Séjour
Data: 4 de Junho, 14.30 – 18H

VISITAS GUIADAS
“A Campanha de Humberto Delgado em Lisboa” – Itinerário Histórico
Organização: Biblioteca Museu República e Resistência – Espaço Cidade Universitária. Visitas sujeitas a inscrição prévia (máximo 20 pessoas). Contacto: Rui Faustino (T. 217 802 760). Ponto de Encontro: Estação de Santa Apolónia (Lisboa), junto à lápide evocativa da chegada de Humberto Delgado a esta estação em Maio de 1958.
Datas: 24 de Maio e 21 de Junho, às 11h.

CONTEÚDOS DIGITAIS
Cinquentenário das Eleições Presidenciais de 1958 - Dossier digital disponibilizado no sítio Fora de Portas (
http://blx.cm-lisboa.pt/), com: programa municipal do cinquentenário, biografia, bibliografia temática e fotografias de Humberto Delgado, notícias da campanha eleitoral no jornal República, ligação ao Catálogo das BLX e à Hemeroteca Digital (http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/), recursos informativos disponíveis na Internet e exposição virtual.

SERVIÇO EDUCATIVO
Ditadura versus Democracia. Eleições Livres - Atelier com a presença de Frederico Delgado Rosa (Fundação Humberto Delgado) e de José Ruy, autor de BD sobre Humberto Delgado (ac).
Destinatários: 6.º ano do 2.º ciclo EB.
Bibliotecas envolvidas: BM Central, BM Belém, BM Orlando Ribeiro, BM Natália Correia e BMRR – CU.
Horário: 4.ªs feiras (10-30H – 14-30H)
Parceiros: Fundação Humberto Delgado.

EDIÇÕES
A Campanha Presidencial de Humberto Delgado em Lisboa - Roteiro (biografia de HD, mapa da cidade com os principais pontos da campanha assinalados, fotografias, excertos de discursos, notícias de imprensa e depoimentos).

Monday, April 14, 2008

LX – Revistas Municipais (séculos XIX - XX)

«Os seis contos de réis que Vossa Magestade Mandou entregar à Camara em 10 do corrente, não chegaram a pagar as férias atrazadas. As contas pelos géneros consumidos, que importam em mais de 14:000$000, chegaram ao termo de serem pagas. O Cofre da Municipalidade apenas encerra 600$000 réis em papel, e o Governo de Vossa Magestade deve à Câmara só de prestações perto de cem contos de réis. Eis o estado actual da Câmara.»

A exposição, dirigida pela Câmara Municipal de Lisboa (CML) à rainha D. Maria II, remonta ao ano de 1836 e consta da Synopse dos Principaes actos administrativos da Câmara Municipal de Lisboa, a primeira publicação periódica da edilidade e, por isso mesmo, em destaque na mostra que a Hemeroteca Municipal de Lisboa (HML) inaugurou no dia 1 de Abril, terça-feira, às 18 horas. Em exposição estarão mais de três dezenas de títulos, do espólio das colecções da HML e do Gabinete de Estudos Olisiponenses.
Dar a conhecer aos munícipes a sua actividade, submetendo-se assim ao seu juízo crítico, era o objectivo destas primeiras publicações. Por essa altura, já as questões do Tesouro estavam na ordem do dia e a CML não parecia disposta a deixar os seus créditos por mãos alheias, ainda que reais, e por isso ameaçava: «Assim, não tomando o Governo de Vossa Magestade na consideração, que merece, a mencionada Consulta para deferi-la como a razão pede, e a justiça manda, a Câmara vai affixar Editaes avisando os povos para não so surprehender que a Cidade vai ficar immunda, e sem luz, por motivo, de não receber ao menos as prestações designadas para esse fim.»
Rapidamente, as publicações de natureza mais informativa e formal evoluíram estabelecendo novos horizontes: divulgar a história de Lisboa e as suas riquezas patrimoniais, propagandear novos valores, ideias e doutrinas, enfim, projectar a “imagem” que os detentores do poder consideram mais adequada aos seus propósitos.
Falamos, portanto, de uma colecção da maior importância para o conhecimento e história do município de Lisboa, cujo valor patrimonial é inquestionável, a vários títulos e que, no quadro desta iniciativa da HML, é agora revelada em toda a sua amplitude e diversidade, além de viabilizar a formação, na HML, de uma colecção completa dos jornais e revistas municipais lisboetas, independentemente do seu suporte (papel, microfilme ou digital).
Refira-se ainda que, na impossibilidade de exibir todas estas publicações optou-se por aquelas que, pela sua história e percurso, se afiguraram como as mais importantes, destacando, deste conjunto, as revistas com uma abrangência geral, ou, se quisermos, transversal, e as revistas municipais com propósitos eminentemente culturais.

A mostra LX – Revistas Municipais (séculos XIX - XX) será ainda o pólo dinamizador de uma ampla e diversificada Programação que contempla:

- O Ciclo de três Conferências A CML e os seus Periódicos. Da Sinopse à Revista Municipal (1834-1988), que se desenvolverá nos meses de Abril e Maio, na Sala do Espelho, às quintas-feiras, a partir das 18 horas:
1.ª Conferência:
10/04 – A Imprensa Institucional: o estado da questão, por Mário Matos e Lemos (Jornalista e Investigador do Centro de Estudos Interdisciplinares do século XX da Universidade de Coimbra) ;
2.ª Conferência:
17/04 – As Revistas Municipais de Lisboa (1933-1973): história e propaganda, por Rita Correia (CML/HML);
3.ª Conferência:
28/05– A Imprensa Municipal Lisboeta Oitocentista: subsídios para a sua história, por Álvaro Costa de Matos (CML/HML)

- A Mesa Redonda A Revista Municipal de Lisboa (1939-1988): histórias & memórias, que conta com a participação de António Trindade e Nuno Ludovice, da CML, e de Orlando Capitão, Fernando Castelo Branco, Salete Salvado e Irisalva Moita, antigos directores e redactores da Revista Municipal. A conversa será moderada por Álvaro Costa de Matos (CML). Está agendada para o dia 29/05, 18 horas, na Sala do Espelho da HML.

- Uma Mini-feira de periódicos municipais, onde se poderão adquirir, a preços simbólicos, algumas destas edições (findas e em publicação). Terá lugar na Hemeroteca, durante os meses de Abril e Maio.

- Visitas guiadas à Tipografia Municipal, para conhecer as oficinas gráficas (Estrada de Chelas) onde se produziram e ainda produzem muitas das edições lançadas pela CML. As visitas são sujeita a inscrição prévia e decorreram ao longo dos meses de Abril e Maio.

- No sítio da Hemeroteca Digital,
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/, o Anuário da CML (1935-1937) passará a figurar ao lado de outros títulos do “fundo institucional” já digitalizados, como os Anais das bibliotecas, arquivo e museus municipais (1931-1936), o Boletim cultural e estatístico (1937), a Revista Municipal (1939-1973) e a sua sucedânea Lisboa: revista municipal (1979-1988). Serão também colocadas em linha as comunicações apresentadas no Ciclo de Conferências e outros recursos informativos produzidos no âmbito da organização deste projecto.

Vale a pena.

Friday, February 15, 2008

O Regicídio, Cem Anos Depois (1908-2008)


O ano de 1908 começou com a prisão de alguns republicanos e correligionários de José Maria de Alpoim implicados em projectadas actividades bombistas. Para 28 de Janeiro, os mesmos conspiradores projectaram o assassínio de João Franco e um golpe de estado na capital apoiado por vários oficiais do Exército e da Armada. Falhada esta iniciativa, Alpoim fugiu para Espanha e foram presos o seu amigo visconde da Ribeira Brava, o professor universitário Afonso Costa e o médico Egas Moniz, ambos republicanos. A 31 de Janeiro, um decreto permitia ao governo expulsar do país os conspiradores, provavelmente para evitar a agitação que o julgamento das personalidades envolvidas provocaria. Mas, na tarde de 1 de Fevereiro, outros membros do grupo de conspiradores esperavam a Família Real, que regressava de Vila Viçosa. Falhado o golpe, haviam decidido pôr fim ao franquismo matando o Rei e os seus familiares. Os agentes do atentado, com armas ocultas em capotes, foram Alfredo Costa e Manuel Buiça, membros das lojas maçónicas e da conspiração projectada por Alpoim e Afonso Costa. Depois de desembarcarem no Terreiro do Paço, o Rei, a Rainha D. Amélia e o Príncipe Real D. Luís Filipe cumprimentaram os membros do governo e os Infantes D. Afonso e D. Manuel, e entraram nas carruagens que os levariam ao Paço das Necessidades. O aparato policial não era grande e circulava-se à vontade na zona. Quando iam a entrar na rua do Arsenal, Costa saiu da multidão, pendurou-se na carruagem do Rei e deu-lhe dois tiros de pistola nas costas que o mataram e feriram D. Manuel. Na mesma carruagem, D. Luís Filipe levantou-se, puxou da sua arma e logo foi alvejado no peito pela carabina de Buiça, que saltara das arcadas. Enquanto os regicidas não foram neutralizados pela própria polícia, a própria Rainha atacou Costa com o que tinha na mão: um ramo de flores. O Príncipe não sobreviveu ao atentado e, poucos minutos depois, D. Manuel era Rei. O governo de Franco, malquisto pela Rainha, caiu dias depois, sendo entregue o governo ao almirante Francisco Ferreira do Amaral. Terminava igualmente o projecto de D. Carlos de reforma do sistema partidário da Monarquia Constitucional portuguesa. Iniciou-se a «acalmação»: foram libertos os conspiradores, fizeram-se eleições a 5 de Abril e as Cortes reabriram a 29. José Luciano e Júlio de Vilhena (sucessor de Hintze no partido regenerador) parecem entender-se para salvar o regime, apoiando Ferreira do Amaral. Em Dezembro, as eleições municipais em Lisboa deram a vitória à lista republicana, com vitórias republicanos similares na zona do vale do Tejo, no Alentejo e no Algarve.

Cem anos depois do Regicídio de 1908 está criada a oportunidade histórica para revisitar e problematizar este importante acontecimento, bem como as implicações políticas e culturais que teve no rumo da história contemporânea de Portugal. É o que propõe a Hemeroteca Municipal de Lisboa organizando para o efeito um conjunto de actividades assente na seguinte programação:


COLÓQUIOS & CONFERÊNCIAS
O Regicídio de 1908, Política e Imprensa - Ciclo de Conferências:
1.ª Conferência (7 Fev 2008 - 18H)
O Regicídio de 1908, Impacto nos jornais portugueses, por Eduardo Teixeira (Professor e Mestre em História Contemporânea pela FLL)
2.ª Conferência (14 Fev 2008 18H)
O Regicídio de 1908, Impacto na Imprensa Estrangeira, por Reto Monico (Investigador e Professor da História na Suiça)
3.ª Conferência (21 Fev 2008 - 18H)
O Regicídio de 1908, Ilustração de Imprensa, por Elisabete Rocha (CML/HML)
4. Conferência (28 Fev - 18H)
O Regicídio de 1908. O Estado da Questão, por Álvaro Costa de Matos (CML/HML)

MOSTRAS BIBLIOGRÁFICAS & DOCUMENTAIS
O Regicídio na Imprensa da Época – Mostra Bibliográfica e Documental alusiva ao impacto do Regicídio de 1908 na imprensa escrita e ilustrada da época, organizada a partir da colecção da Hemeroteca Municipal de Lisboa. Inauguração: 2 de Fevereiro. Em exibição até 29 de Fevereiro.

LANÇAMENTO DE LIVROS
Apresentação do livro Mataram o Rei, de Joaquim Vieira e Reto Monico, editada pela Pedra da Lua, 2008 (280 p.), por Joaquim Vieira (Observatório da Imprensa), no dia 14 de Fevereiro (18H).

VISITAS GUIADAS
“Três Tiros que Abalaram a Monarquia” – Percurso Histórico pelos locais relacionados com o assassínio, em 1 de Fevereiro de 1908, do rei D. Carlos I e do príncipe Luís Filipe. Sujeito a inscrição prévia. Realiza-se aos Domingos (11h), para o público em geral, no âmbito da iniciativa municipal “Ao Domingo o Terreiro do Paço é das Pessoas”, com as terças e quintas-feiras reservadas para as escolas, respectivamente às 11 e 15h. Ponto de encontro: Café Gelo, no Rossio.

CONTEÚDOS DIGITAIS
Hemeroteca Digital – Conteúdos Digitais: no âmbito do Centenário do Regicídio (1908-2008) a Hemeroteca Municipal colocou na Internet alguns conteúdos informativos e documentos relacionados com esta efeméride, como, por exemplo, digitalizações das principais revistas ilustradas da época, iconografia estrangeira, o testemunho íntimo de D. Manuel II, filho mais novo de D. Carlos, o percurso, agora histórico, que precipitou a queda do regime monárquico em Portugal, os livros que os investigadores e leitores poderão encontrar nas bibliotecas municipais de Lisboa sobre o Regicídio, entre outros recursos informativos, como sites e blogs. Um manancial de dados e informações, agora à distância de um simples clique, na Hemeroteca Digital, em
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/

ATELIERS
“A Escola vem à Hemeroteca”
Público-alvo: alunos do 2.º Ciclo (6º ano) e 3.ª Ciclo (9º ano de escolaridade) e ensino secundário.
“A Hemeroteca vai à Escola”
Público-alvo: alunos do 2.º Ciclo (6º ano) e 3.ª Ciclo (9º ano de escolaridade).

Motivos de sobra para dar um salto ao Palácio da Imprensa...

Friday, January 11, 2008

Ética da Responsabilidade...


O esperado aconteceu. Não vamos ter referendo ao Tratado de Lisboa. O dito será ratificado pelo Parlamento. Mais uma promessa por cumprir. Depois dos impostos, que não seriam aumentados, e dos 150.000 novos empregos, que tardam em aparecer. O primeiro-ministro tornou-se um especialista na matéria, a bem do supremo interesse europeu. O compromisso assumido com outros primeiros-ministros conta mais que o compromisso com o país. "Há aqui uma ética da responsabilidade", disse-nos. Ética da responsabilidade? Mas onde está ela? Na quebra de uma promessa eleitoral? Em fazer o contrário do que está no programa do Governo? Para defender a ratificação parlamentar o Engenheiro invocou 3 razões: porque há "um consenso alargado na sociedade portuguesa quanto ao projecto europeu e ao próprio Tratado de Lisboa"; pelo efeito dominó que o referendo teria nos restantes países; finalmente, porque este já não é o Tratado Constitucional que estava em cima da mesa quando foi eleito e "não implica limitações à soberania nacional". Questionemos, enquanto nos é permitido: Consenso alargado? Onde está ele? Que dados dispõe Sócrates para sustentar tal tese? Do INE, que ele controla? Que debate foi feito? Se há um consenso alargado porque não discutir um tratado que ninguém percebe? Porque não ouvir o povo? Quanto à tese do efeito dominó ficámos a saber, se dúvidas houvessem, que Portugal faz aquilo que lhe mandam fazer, como membro bem comportado que é. Por último invoca-se uma pseudodiferença entre o Tratado de Lisboa e o Tratado Constitucional, como se fossemos todos estúpidos. Mas que diferença é essa? Onomástica? Porque o novo não contempla os símbolos "europeus" como a bandeira e o hino? Quando 90% do conteúdo da famigerada Constituição Europeia está no Tratado de Lisboa que dizer disto? O essencial (divisão de poderes, direitos dos cidadãos, maioria qualificada, identidade substantiva) não está incorporado no Tratado de Lisboa? A irrelevância do país consagrada pelo novo tratado diz tudo sobre a ausência de limitações à soberania nacional. Perde-se assim uma oportunidade, única, para, pela primeira vez, os portugueses discutirem a sério a Europa. Mas os burocratas de Bruxelas, com a conivência da generalidade dos políticos nacionais, não querem esta discussão. Temem a consulta popular. A "euroeuforia" de hoje será a desgraça de amanhã...

Monday, January 7, 2008

D. João da Câmara, no Centenário da sua Morte (1908-2008)


Quem foi D. João da Câmara? Descendente directo do navegador que descobriu a Madeira, D. João Gonçalves Zarco da Câmara era filho do cruzamento da estirpe dos marqueses e condes da Ribeira Grande (pelo lado do pai) com a dos duques de Lafões (pelo lado da mãe). O seu álbum familiar estava recheado de «embaixadores, ministros, alcaides-mores e ouvidores geraes». Nasceu em 1852. Desde muito cedo cultivou as letras, como atesta o drama O Diabo, escrito ainda quando era aluno do Colégio de Campolide. Depois de uma passagem por Lovaina (Bélgica), matriculou-se na Escola Politécnica de Lisboa. A sua estreia como autor dramático, no Teatro D. Maria, acontece com a comédia em 1 acto Ao pé do Fogão. Terminado o curso no Instituto Industrial, foi encarregado de vários trabalhos ferroviários, o que lhe valeu, em 1900, a nomeação para chefe de repartição dos caminhos-de-ferro ultramarinos. Pelo meio, dedica-se às suas grandes paixões, o teatro, a poesia e o jornalismo: em 1888, escreveu o monólogo Os Gatos; dois anos depois, em 1890, terá um êxito estrondoso no D. Maria com D. Afonso VI, um drama em 5 actos e em verso; seguir-se-ão muitas outras peças, com destaque para Os Velhos, em 3 actos, (1893), O Pântano, 4 actos (1894), A Toutinegra Real, 3 actos (1895), O Beijo do Infante (1898), Rosa Enjeitada, 6 actos (1901). De colaboração com Gervásio Lobato, escreveu a comédia Os Anos da Menina, em 1892, e as operetas em 3 actos, com música de Ciríaco Cardoso: O Burro do Sr. Alcaide, (1891), Cocó, Reineta e Facada (1893), O Testamento da Velha (1894), entre outras. Da colaboração com Gervásio Lobato e Lopes de Mendonça, escreveu a farsa Zé Palonso (1891); com Eduardo Schwalbach, O João das Velhas (1901); com o mesmo e Lopes de Mendonça, Moura Cabral, Batalha Reis e Fernando Caldeira, a farsa O Burro em Pancas (1892). Foi ainda autor dos romances históricos El-Rei, e O Conde de Castelo Melhor, e d'O Livro de leitura para as escolas de instrução primária, juntamente com Raul Brandão e Maximiliano de Azevedo. Destacou-se ainda como jornalista, em prosa e em verso, deixando colaboração valiosíssima na revista O Ocidente, onde substituirá Gervásio Lobato. Foi ainda professor de arte dramática no Conservatório de Lisboa, e sócio da Academia Real das Ciências. Morreu no dia 2 de Janeiro de 1908.

Razões suficientes para a Hemeroteca Municipal de Lisboa revisitar a sua vida e obra, muito esquecida, diga-se, numa altura em que se assinala o centenário da sua morte, com a seguinte programação:

MOSTRAS DOCUMENTAIS
D. João da Câmara, Vida e Obra – mostra bibliográfica e documental que tem por objectivo revisitar a obra literária de D. João da Câmara (1852-1908), com destaque para a sua actividade como dramaturgo e jornalista. Reúne documentação (livros, periódicos, outros documentos) proveniente das colecções da Hemeroteca, de outras bibliotecas municipais e de particulares.
Local: Hemeroteca Municipal de Lisboa _ Átrio e Escadaria. Data: Inauguração: 2 Janeiro. Em exibição ate 31 de Janeiro.

CONFERÊNCIAS
D. João da Câmara, 100 Anos Depois (1908-2008) – ciclo de conferências

1.ª Conferência:
D. João da Câmara, Jornalista, por António Valdemar (Expresso)
10 Janeiro, 18H

2.ª Conferência:
D. João da Câmara, Poeta e Ficcionista, por Ernesto Rodrigues (UL/FL)
17 Janeiro, 18H

3.ª Conferência:
D. João da Câmara e o desenvolvimento dos caminhos-de-ferro oitocentistas, por Jorge Trigo (CML/HML)
24 de Janeiro, 18H

4.ª Conferência:
D. João da Câmara, Dramaturgo, por Ivo Cruz (Investigador e Historiador do Teatro)
31 de Janeiro, 18H

Local das conferências: Hemeroteca Municipal – Sala do Espelho

DIGITAL
Hemeroteca Digital – Conteúdos Digitais: no âmbito do Centenário da Morte de D. João da Câmara (1808-2008) a Hemeroteca Municipal irá colocar na Internet alguns conteúdos informativos e documentos relacionados com esta efeméride, como, por exemplo, textos jornalísticos, uma nota biográfica, os livros que os investigadores e leitores poderão encontrar nas bibliotecas municipais de Lisboa de e sobre D. João da Câmara, entre outros recursos informativos, como sites e blogs. Um manancial de dados e informações, agora à distância de um simples clique, na Hemeroteca Digital, em http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/

Aproveite e dê um salto à biblioteca do efémero...