Friday, November 23, 2007

Lobbying e marketing político


Este é o tema do número 2 (Outono-Inverno 2006) da revista Comunicação & Cultura, já aqui apresentada em post recente. Os media sempre desempenharam um papel importante para os agentes políticos, mas, a partir da segunda metade do século XX, os meios de comunicação começaram a assumir um papel determinante na condução da actividade política. Ora, é precisamente sobre este papel que se reflecte neste número, com textos de Elisabeth Bronsen (Celebrating catastrophe), Rogério Santos (Congressos Partidários), Estrela Serrano (A dimensão política do jornalismo), Paula do Espírito Santo (A mensagem política na campanha das eleições presidenciais: análise de conteúdo dos slogans entre 1976 e 2006), Isabel Ferin (Tendências de cobertura do final de um ciclo: Cavaco Silva (1994-1995), Gonçalo Pereira (O caso ICN - convergência entre jornalistas e fontes), Magda Rodrigues da Cunha (Campanhas políticas e tecnologias digitais), Michael Walrave (Majors users, minor rights: e-privacy rights of minors), e Jorge Fazenda Lourenço (A Sapiência ainda é possível?). Inclui uma entrevista a André Freire, conduzida por Rita Figueiras, e recensões aos seguintes livros: Imagens da Mulher na Imprensa de Oitocentos, de Ana Costa Lopes, por Horácio Araújo; As Vozes da Rádio e A Emissora Nacional nos Primeiros Anos do Estado Novo (1933-1945), respectivamente de Rogérios Santos e Nelson Ribeiro, por Luís Bonixe; José Maria Eugénio de Almeida, de José Miguel Sardica, por Patrícia Dias; Tudo o que é mau faz bem, de Steven Johnson, por Carla Ganito. Ver também a montra de livros, as teses defendidas e a agenda para ficar a par dos eventos e do que vai saindo na área da comunicação e cultura.

Wednesday, November 21, 2007

Era uma vez uma Ginginha...


O novo Portugal, das novas oportunidades, da banda larga e do plano tecnológico não suporta as imagens simbólicas do velho país, e muito menos um país à solta, livre, não controlado pelo Estado. Por isso, criou a ASAE, a nova PIDE do regime. Esta, no seu afã intratável, virou-se agora para o que ainda resta de pitoresco, neste país, e vai daí, fechou a Ginginha do Rossio, qual cão raivoso. Sim, a típica Ginginha do Rossio, numa operação de fiscalização a estabelecimentos de restauração e, pasme-se, de controlo de cidadãos estrangeiros, a que pomposamente chamou de “Amarula”. Motivo: por falta de condições “higiosanitárias e técnicofuncionais”, leia-se porque a Ginginha não tinha casa de banho. Bom senso é coisa que não existe na cabeça desta gente. Expliquemo-nos: o espaço, exíguo, não recebe mais do que 4 pessoas, quanto mais uma casa de banho!!! A construção da dita pode pura e simplesmente inviabilizar a continuidade de uma casa centenária, fundada em 1840, ponto de paragem obrigatório para quem quer experimentar um sabor tipicamente lisboeta. É claro que, para a ASAE, nada disto conta, e muito menos que o famoso licor já fosse servido em copos de plástico, com o fruto lá dentro, que é o que verdadeiramente interessa. O encerramento coercivo causou surpresa geral e deixou os donos de boca aberta. Os turistas, de guia de Lisboa em riste, bateram com o nariz na porta, literalmente. E assim assistimos, impávidos e serenos, à imposição de um Portugal asséptico, que despreza o direito de propriedade e as suas tradições (alfacinhas, neste caso), apenas porque estas lhe lembram um outro Portugal, “atrasado” e periférico, e do qual o novo Portugal tem vergonha, ou não incluiu na sua existência, citando José Gil. Isto sem um protesto sério em parte alguma, o que não anuncia nada de bom…

Tuesday, November 13, 2007

O "Vício" da Liberdade...


Numa altura em que se assinala o Bicentenário das Invasões Francesas (1807-2007), a Hemeroteca Municipal de Lisboa (HML) evoca igualmente a efeméride com um conjunto de iniciativas (ver programa, em baixo) que nos permitem revisitar a história desta época, e muito particularmente o fenómeno da imprensa periódica e da literatura panfletária. No contexto da Guerra Peninsular, e até ao Congresso da Viena, em 1815, a imprensa periódica conhece uma notável expansão, primeiro com a “terrível invenção dos jornais de Londres”, como o Correio Braziliense (1808-1822) ou o Investigador Português em Inglaterra, lançado em 1812; depois com o aparecimento de vários jornais no país, que alimentam a euforia propagandística, de que é exemplo O Leal Português ou a Minerva Lusitana, de cunho essencialmente patriótico, com tiragens inéditas. Estas publicações vão revelar-se fundamentais para o debate de ideias e para a clarificação das correntes políticas, moderadas e radicas, que impulsionaram o processo revolucionário vintista. A par da explosão dos jornais temos uma não menos importante proliferação de folhas volantes, libelos, manifestos, panfletos, na sua maioria anti-napoleónicos, lançados aos milhares no mercado, em diversas edições e formatos, num fenómeno sem precedentes na história editorial portuguesa. A este respeito são exemplares os folhetos que Daniel Rodrigues da Costa publicou, com os títulos Câmara Óptica (1807), Partidistas contra Partidistas e Jacobinos Praguejados (1809) e Protecção à Francesa (1808). De uma forma ou de outra, esta literatura panfletária explora, com abundantes recursos imagéticos, temas como a irreligião, a brutalidade, a rapacidade e a libertinagem dos invasores. E não poupam também aqueles que, internamente, se mostravam simpatizantes das ideias revolucionárias, os chamados “franchipanas”. Nesta arte de maldizer especializaram-se, entre outros, José Agostinho de Macedo, José António da Silva Freire, José Acúrio das Neves e o citado Daniel Rodrigues da Costa. Em certos casos, a caricatura sobrepõe-se ao texto, alargando as modalidades de enunciação do sentimento patriótico. A partir de 1815, entramos num outro processo, com o amordaçar da imprensa, traduzindo as clivagens internas que se esboçam no interior da Regência.

PROGRAMA
MOSTRAS DOCUMENTAIS

O “Vício da Liberdade”: Jornais e Panfletos Anti-Napoleónicos (1807-1815) – Mostra documental que é um testemunho destes tempos, e sobretudo das mudanças verificadas na Imprensa, num contexto muito peculiar, de ocupação estrangeira, divulgando-se assim alguns dos jornais e panfletos mais importantes então publicados. São exibidas espécies provenientes da colecção da HML e de colecções particulares, constituindo algumas delas autênticas raridades bibliográficas.
Local: Hemeroteca Municipal de Lisboa _ Átrio e Escadaria. Data: Inauguração: 12 de Novembro. Em exibição até 31 de Dezembro

CONFERÊNCIAS

O “Vício da Liberdade”: Jornais e Panfletos Anti-Napoleónicos (1807-1815) – Ciclo de Conferências

1.ª Conferência: Os Panfletos Anti-Franceses, subsídios para a sua história, por António Ventura (UL/FL) Data: 28 Novembro (quarta-feira), 18 horas. Local: Hemeroteca Municipal _ Sala do Espelho

2.ª Conferência: Invasões Francesas: o esgrimir das penas e os papéis incendiários, por Rita Correia (CML/HML) Data: 6 Dezembro (quinta-feira), 18 horas. Local: Hemeroteca Municipal _ Sala do Espelho

DIGITAL

Hemeroteca Digital – Conteúdos Digitais: no âmbito do Bicentenário das Invasões Francesas (1807-2007) a Hemeroteca Municipal disponibilizará na Internet alguns documentos históricos relacionados com esta efeméride, como panfletos, manifestos e libelos, editados entre 1807 e 1815, na sua maioria contra a ocupação francesa, uma introdução histórica ao tema, bibliografia que os investigadores e leitores poderão encontrar nas bibliotecas municipais de Lisboa, entre outros conteúdos informativos, como sites e blogs sobre as Invasões Francesas. Um manancial de dados e informações sobre este dramático episódio da História Contemporânea de Portugal, agora à distância de um simples clique, na Hemeroteca Digital, em http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/

Thursday, November 8, 2007

O Estatuto CONTRA os jornalistas


Acabou a novela do novo Estatuto dos Jornalistas com a promulgação de Cavaco Silva. Aliás, o diploma já está publicado em Diário da República. Com a conivência presidencial o jornalismo livre e independente pode ter os dias contados. Depois dos desmandos da ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social), das alterações ao Código de Processo Penal sobre as escutas telefónicas, chega-nos agora o novo Estatuto dos Jornalistas, como corolário da fúria legislativa socialista contra a comunicação social. É certo que houve alguns recuos relativamente ao primeiro diploma mas, no essencial, o absurdo mantém-se. Ainda que remetendo o assunto para o Código do Processo Penal, os jornalistas continuarão sujeitos à discricionariedade dos juízes no que toca à possibilidade de terem de revelar as suas fontes, passando-se assim por cima da importância que o sigilo tem para a existência da própria actividade jornalística; o novo estatuto continua a ignorar o carácter colectivo do trabalho jornalístico na questão dos direitos de autor, revelando-se insensível às profundas alterações que atravessam os media; continuam as sanções aos jornalistas, da competência da famosa Comissão de Carteira, qual tribunal inquisitorial, que pode aplicar (pasme-se!!!) "penas de repreensão" até um ano de suspensão; continua igualmente a obrigatoriedade dos jornalistas aceitarem que se eliminem ou alterem partes dos seus textos, mesmo que os deixem de assinar, caso não se identifiquem com o resultado final, o que conduzirá, naturalmente, à censura interna. Algumas destas situações foram previamente denunciadas como inconstitucionais, porque colidiam quer com os direitos fundamentais dos jornalistas quer com as garantias de liberdade de imprensa. Falou-se mesmo no mais violento ataque à liberdade de imprensa em 33 anos. Em vão. Para Cavaco é matéria de pouca importância. Mas será que o Sr. Presidente da República não percebe que qualquer intromissão do Estado através de órgãos administrativos configurará sempre uma limitação da liberdade de imprensa ao criar um perigoso clima de coacção ou mesmo autocensura? Que isto põe em causa o Estado de Direito, que ele é suposto defender? Não lhe passa pela cabeça que o Estatuto dos Jornalistas nem sequer devia existir, nomeadamente com forma de lei da República!!! Não existe já uma Constituição, a lei geral e a Lei de Imprensa? Não têm os jornalistas dois códigos éticos (o Deontológico e o de Honra), pelos quais se deviam auto-regular, dispensando assim a ERC? Não temos nós tribunais com regras próprias do Estado de Direito para garantir que os jornalistas não estejam acima da lei? Não estão estes ainda sujeitos ao julgamento da opinião pública? Porquê então a criação de uma Comissão da Carteira para o controlo deontológico da profissão? Definitivamente, este presidente e o Estado socrático convivem mal com a liberdade de imprensa. Criaram assim, perante a indiferença geral (excepto, reconheça-se, da classe), um novo tipo de jornalismo, "um jornalismo de cócoras, atento, obediente e obrigado a quem tiver poder". As palavras são de José Leite Pereira, director do Jornal de Negócios, provavelmente a primeira vítima da Comissão da Carteira...

Wednesday, November 7, 2007

A cor dos media


Título da "nova" revista de comunicação e cultura, lançada na primavera-verão de 2006, pela Faculdade de Ciências Humanas da UCP, com edição da Quimera. Pretende conciliar a "reflexão local com as tendências globais, a investigação nacional com o estado da arte ao nível internacional", centrando a sua intervenção no "campo de confluência entre a comunicação e a cultura". Além disso, que não é pouco, deseja "revitalizar a discussão académica", "encetar um diálogo profundo com a comunidade académica internacional", acompanhando os desenvolvimentos teóricos mais recentes e acolhendo investigação de excelência, e, finalmente, divulgar os trabalhos publicados junto de públicos exteriores às fronteiras da Universidade. A revista é dirigida por Isabel Capeloa Gil e conta, neste primeiro número, com a colaboração de Stuart Hall (Identidade cultural e diáspora), Roberto Carneiro (Hibridação e aventura humana), Catarina Duff Burnay (Identidade e identidades na ficção televisiva nacional: 2000 - 2006), Isabel Ferin (Imagens da diferença: prostituição e realojamento na televisão), Catarina Valdigem (Brasileiros e ciganos no prime-time português: estudo de caso), Margarida Lima de Faria e Renata Almeida (A problemática da "identidade" e o lugar do "património"), Marcos Ferreira (Nation as narration: the (de)construction of "Yugostalgia" throught Kusturica's cinematic eye), Luís Bonixe (As rádios locais em Portugal: uma análise do discurso jornalístico). Temos ainda uma entrevista a François Colbert, conduzida por Rita Curvelo, a clássica secção de recensões, completada com uma útil montra de livros e uma lista das teses defendidas nas áreas das ciências da comunicação e dos estudos de cultura na FCH da UCP. Termina com indicação dos temas dos próximos números. Mais um contributo para compreender o território fluido do nosso mundo global...

Tuesday, November 6, 2007

Recortes de Imprensa: "Guerra", de Eduardo Cintra Torres

“Durante anos, o projecto de Joaquim Furtado sobre a guerra em África levantou reservas a responsáveis da RTP. Hábito é trabalhar-se em cima do joelho e não demorar anos num trabalho de investigação e realização. Ele persistiu e o seu estatuto sénior permitiu-lhe continuar e chegar a bom porto. Valeu a pena. Guerra despertou desde o primeiro episódio merecidos elogios e interesse público (RTP1, terças-feiras). Um lustro de trabalho favoreceu a qualidade da série. São precisos anos para fazer centenas de entrevistas em vários países, ver e ouvir centenas de horas em arquivos, organizar material, estudar, escolher e realizar, em especial se a tarefa é, como neste caso, quase solitária. Para abordar a guerra de África, tema ainda difícil e virgem em televisão, Furtado escolheu a via adequada: a do jornalismo de referência, da reportagem em grande profundidade, raramente vista na TV portuguesa. Obra de autor, Guerra é a obra dum autor jornalista. O próprio título, com suas três variantes – guerra colonial, do ultramar, de libertação –, indica a obsessão pela objectividade jornalística que os primeiros episódios confirmam. Essa é a primeira vitória da série: ela honra o jornalismo português de forma exemplar. Honra o jornalismo, tout court, pois mostra a importância vital do jornalismo na sociedade democrática, o jornalismo verdadeiro, equidistante, independente, aberto, de investigação, corajoso na revelação da verdade. Só a verdade pode sarar as feridas abertas pelos pesadelos duma guerra. Os primeiros quatro episódios deram alternadamente a voz a guerrilheiros e outros angolanos, militares, políticos e civis portugueses envolvidos nos eventos de Angola em 1961. Além do excelente uso de diversos arquivos, da sincronia do áudio da Emissora Nacional aos filmes da RTP, os episódios desenterram como nunca antes em TV uma narrativa sobre os primeiros oito meses da guerra em Angola. Pessoas envolvidas, incluindo em atrocidades, falaram com grande abertura à verdade. Ficou-se a saber que Salazar ignorou um aviso sobre o ataque da UPA, o que mostra a hipocrisia política de abandonar os portugueses em Angola e só agir depois. Fez o mesmo na Índia e quase o fez em Macau em 66, tendo ponderado abandonar portugueses e macaenses aos Guardas Vermelhos. A série revelou também a inicial resposta terrorista dos portugueses aos ataques terroristas da UPA. O trabalho em profundidade permitiu detalhar para compreender. Os recursos estilísticos da série são simples. Entrevistas sem cenário; depoimentos com cortes à vista, como nas notícias de jornal; narração factual, escorreita e correcta, como no jornalismo; mapas de Angola para acompanhar os acontecimentos, como num jornal; ausência de floreados visuais e musicais, só narrativa em pele e osso; uso de imagens de arquivo no sítio certo da narrativa; onde faltam, desenharam-se, como nas reconstituições de cenas de tribunal – outro indício do modelo jornalístico. Furtado optou nos primeiros episódios por só apresentar depoimentos dos que fizeram, sofreram ou estiveram envolvidos na guerra. Ficaram de fora politólogos e historiadores. A série adquire assim maior capacidade narrativa e de envolvimento do espectador, sem perder o fio explicativo. A narração off é demasiado detalhada, pois caber-lhe-ia a ligação dos factos «por cima», deixando os pormenores aos entrevistados. Faltou contextualização, mas foi uma opção editorial. Falhas menores. O resultado não é uma análise histórica, mas um documento de história oral e visual da guerra, insubstituível, ao contrário de outros programas do género, por compêndios ou análises escritas. A televisão no seu melhor como documento, como testemunho.” (Público, 3/XI/2007)

Monday, November 5, 2007

A Imprensa e o Jornal de Domingo










Mais novidades no sítio da Hemeroteca Digital, com a colocação em linha de dois novos títulos, A Imprensa e o Jornal do Domingo. A escolha recaiu, desta vez, sobre o fundo histórico da Hemeroteca Municipal de Lisboa, com a digitalização de dois importantes periódicos publicados em Lisboa no século XIX. A Imprensa, publicada entre 1885 e 1891, num total de 72 números, foi dirigida por Afonso Vargas. O subtítulo revista científica, literária e artística traduzia desde logo todo um programa, confirmado depois em editorial assinado pelo director. Mas, apesar da abertura da revista "a toda a ordem de questões", ela revelará uma abordagem especial à problemática da Imprensa, com a publicação de vários artigos sobre a tipografia em Portugal, a indústria do livro, o jornalismo, a imprensa da universidade, entre outros, temas do maior interesse para o conhecimento da História da Imprensa Periódica. O Jornal do Domingo publicou-se um pouco mais cedo, entre 1881 e 1883, e contou, desde o número 12, com a direcção literária de Pinheiro Chagas. Como colaboradores, destacam-se Brito Aranha, Bulhão Pato, Gervásio Lobato, Guerra Junqueiro, Júlio César Machado, Latino Coelho, Mariano Pina, Rafael Bordalo Pinheiro, e muitos outros. Foi essencialmente um jornal de entretenimento para o grande público, abundantemente ilustrado, ainda que com a entrada de novos colaboradores a actualidade política e literária ganhe relevância. Lisboa é também motivo de notícia, com crónicas sobre os seus costumes, espectáculos, a par dos tradicionais relatos de viagens ou artigos sobre as últimas descobertas científicas. Tudo isto à distância de um clique, na http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/