Tuesday, May 8, 2007

Fialho de Almeida, 150 Anos Depois


Assinalam-se este ano os 150 anos do nascimento de Fialho de Almeida (1857-1911). As comemorações iniciaram-se na sexta-feira passada, dia 4 de Maio, em Vila de Frades (Concelho da Vidigueira), terra natal do homenageado. Rezam as crónicas que serão continuadas em Lisboa, com o inevitável apoio da autarquia, se a turbulência política vivida por esta assim o permitir. Mas, quem foi Fialho de Almeida (FA)? Escritor e jornalista, FA faz parte por mérito próprio do albúm de glórias das letras portuguesas de oitocentos. Em 1866 veio para Lisboa, para o Colégio Europeu, fazer os estudos elementares, que seguiu até 1872. Em 1885 conclui o Curso de Medicina, na Escola Médico-Cirúrgica, de pouca utilidade, diga-se, pois só fugazmente viria a exercer a actividade clínica. A vocação inclinava-se desde cedo para a literatura e o jornalismo panfletário. Funda, em 1880, a revista literária A Crónica. Um ano depois publica o seu primeiro livro, os Contos, dedicado a Camilo Castelo Branco, e no ano imediato A Cidade do Vício. Dirige, anos mais tarde, A Ilustração, saindo também nesta altura O País das Uvas (1889). FA colabora ainda em muitos outros jornais e publicações da época, escrevendo folhetins, crónicas, contos, críticas literárias e teatrais. Mas é com Os Gatos que FA se vai impor definitivamente no meio literário e intelectual lisboeta. Publicados entre Agosto de 1889 e Janeiro de 1894, os panfletos, com o nome d'Os Gatos, eram uma espécie de crónica mensal da vida portuguesa, mas o sucesso foi tão grande que, de mensal, a crónica, passou a semanal. O êxito das Farpas de Ramalho Ortigão dera o mote para tal empreendimento. E Os Gatos são hoje, sem dúvida, uma das principais obras panfletárias da cultura portuguesa, tão características da literatura jornalística e combativa do final do século XIX. Aí se encontram, também, algumas das mais célebres páginas de FA, como as sobre O Violinista Sérgio e o Enterro de D. Luís. O estilo é unico, tal como a violência das palavras, para grande escândalo dos contemporâneos. Politicamente, o que vemos n'Os Gatos, reunidos em seis volumes, é um FA crítico feroz da Monarquia , mas também da República, heterodoxia que lhe valeu muitos inimigos e dissabores: pouco depois do 5 de Outubro de 1910, por exemplo, quando as suas críticas ao governo republicano subiram de tom, foi ameaçado de expulsão do país. Por outro lado, "a atitude iconoclasta do panfletário, o riso de gárgula escarninha, o anarquismo ideológico demarcam-no quer da Geração de 70 (nomeadamente de As Farpas), quer do Realismo/Naturalismo oitocentista que Eça representa". (Isabel Cristina Mateus) Não menos importante, para alguns até o mais "revolucionário" em FA, é a sua concepção estética e a sua prática literária. Na primeira, destaca-se o papel pioneiro de FA na leitura (crítica de arte) e na valorização das artes plásticas em Portugal, indissociável de um espírito atento à modernidade artística europeia (impressionismo). Na segunda, a novidade da sua escrita, que o próprio define como "uma alucinação doida e disforme", fragmentária, por vezes grotesta, com uma clara vocação expressionista, com influência decisiva em escritores como Raul Brandão, que sobre ele muito escreveu (Cf. Memórias). Tudo razões suficiente para revisitarmos FA e a sua obra, 150 anos depois...

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