Wednesday, March 23, 2011

ÀS URNAS, CIDADÃOS...

Pronto, caiu o PEC 4, e com ele o Governo. Vamos ter eleições legislativas antecipadas, pela sétima vez desde 1979. Não me parece que haja margem de manobra para um governo de iniciativa presidencial. Num só dia queimaram-se dois dos cinco passos necessários para a queda do governo, no actual contexto, pois nada obrigava legalmente o Primeiro-Ministro a demitir-se caso o PEC 4 fosse à vida: os passos foram o chumbo do dito, na Assembleia da República, e a demissão de José Sócrates. Segue-se a chamada dos partidos com assento no Parlamento pelo Presidente da República, para os ouvir, a convocação do Conselho de Estado (imperativo prévio para a dissolução da AR) e, por último, o acto eleitoral propriamente dito, pelas minhas contas a ter lugar lá para a segunda quinzena de Maio. No debate parlamentar, e no rescaldo deste, já se adivinham as armas que vão ser usadas nas eleições, até à exaustão, pelos dois maiores partidos políticos: do lado do PS a vitimização, responsabilizando o PSD pela criação duma crise política "evitável", numa altura em que o governo tudo fazia para evitar a entrada do FMI em Portugal; do lado do PSD, a desacreditação do governo, e do PEC 4, feito nas "costas dos portugueses e das instituições democráticas", a par da desconstrução das medidas de austeridade anunciadas pelos socialistas em nome do superior interesse nacional. No debate parlamentar notaram-se ainda outras coisas bastante desagradáveis, como a "fuga" de José Sócrates (nada o obrigava a ficar lá, durante o debate, mas não seria de bom tom que o fizesse, dada a importância do que ali se discutia?), as entradas e saídas do ministro das finanças, a meio de discursos, as birras de Paulo Portas, e tantos outros comportamentos lamentáveis. Tudo isto contribui para o descrédito da política e dos políticos. É como se Portugal transportasse dentro de si próprio um vetusto inimigo interior, que não consegue eliminar. Já em 1890, na ressaca do Ultimatum inglês, Antero de Quental escrevia: "O nosso maior inimigo não é o inglês, somos nós mesmos. Só um falso patriotismo, falso e criminosamente vaidoso, pode afirmar o contrário. Não é com canhões que havemos de afirmar a nossa vitalidade nacional, mas com perseverantes esforços da inteligência e da vontade, com trabalho, estudo e rectidão".

Tal como acredito que a generalidade dos portugueses está farta deste quadro político, e, portanto, receberá a demissão do actual governo como uma oportunidade de mudança, acredito também que não terá mais paciência para falsas promessas, pelo que os partidos, todos, devem meditar nisto. Desde logo é fundamental conhecer a verdadeira dimensão do endividamento do país, que está encapotado, para cada português saber o peso real da sua factura. Depois, nas eleições, os partidos políticos devem deixar de lado os calculismos partidários que refiro em cima, o jogo das culpas, e focalizarem-se no essencial. Por exemplo, quando Pedro Passos Coelho fala numa "estratégia nacional de médio e longo prazo" para combater a crise, como alternativa ao lançamento de medidas fortuitas de austeridade, importa que desenvolva, com clareza, as suas propostas. Ora, as eleições são o lugar ideal para isto acontecer. Por último, o governo eleito deverá pôr em prática os programas sufragados pelos cidadãos, com as reformas que são necessárias para superarmos a recessão económica em que mergulhámos - destas, há uma que é inadiável, se quisermos manter o regime democrático: a reforma eleitoral, que aproxime os eleitores dos deputados. Num ambiente de trabalho, poupança e investimento, aproveitando as oportunidades de um mundo globalizado. Que recupere a prudência, a justa medida, em contraste com os nossos 12 anos no EURO, em que governação e país cederam ao dinheiro fácil. O tempo futuro será de "sangue, suor e lágrimas"...

2 comments:

Assim Falava Zaratustra said...

Parece-me que Passos Coelho já clarificou, como sugeres, parte das medidas a tomar a médio e longo prazo: a saber, o aumento do IVA. Começa bem...

Álvaro Costa de Matos said...

Pois é, meu caro PS, não começa nada bem. Primeiro tiro no pé. Mas ainda há esperança (eh, eh, eh)... Sou radicalmente contra mais aumentos de impostos, seja sobre o consumo, como é o caso, seja sobre o rendimento; o país, a economia e as pessoas não aguentam mais este Estado Fiscal"; a cortar, que cortem na despesa "absurda" do Estado e no desperdício. Por despesa "absurda" leia-se as regalias e privilégios que ainda não acabaram, como ordenados escandalosos dos gestores públicos, assessores atrás de assesssores, empresas municipais que não servem para nada, acumulações indevidas, entre outras mordomias. Há muito por onde cortar, acredita em mim. Menos Estado e Melhor Estado. Abraço,