Friday, June 5, 2009

Do Retrato Político


Inaugurou ontem em Lisboa a exposição temporária "Ombro a Ombro: Retratos Políticos", que, em boa e pertinente hora, o MUDE - Museu do Design e da Moda, trouxe a Portugal. Acrescento pertinente dado o contexto de eleições europeias, pois, se por um lado, a exposição mostra-nos a importância da imagem e do design gráfico na construção do discurso político contemporâneo, por outro, também nos confronta com a pobreza franciscana da imagem e do marketing político dos actuais partidos políticos portugueses. Paradigmático do que acabo de referir são os cartazes políticos que são/foram utilizados nestas eleições europeias, onde é notório o mau gosto, a falta de qualquer sentido estético da política, certo provincianismo, enfim, um amadorismo geral que não se compadece de todo com a importância do acto político, e da oportunidade criada para aproximar os cidadãos da política. Será assim também lá fora? Mas voltemos à exposição, que reúne 250 cartazes provenientes, na sua maioria, do Museu de Design de Zurique, que detém a maior colecção mundial de posters (c. de 350.000 exemplares). E lá temos os "clássicos, de Che Guevara, Mussolini, Estaline, Mao, De Gaulle, Kennedy, até aos mais recentes, da chanceler Merkel ou de Obama. A par de algumas raridades, como "Adolfo, o Super-Homem que engole ouro e cospe latão", de John Heartfield, que é um ataque feroz a Adolf Hitler, de 1932, ou a valiosa fotomontagem de Gustav Klucis "Sob a bandeira de Lenine para construir o Socialismo", datada de 1930. A exposição é complementada com cartazes portugueses de Salazar, Cunhal, Soares, Eanes, Sá Carneiro, entre outros, emprestados pela Biblioteca Nacional, Torre do Tombo, Comissão Nacional de Eleições, Arquivo Municipal de Lisboa e Universidades de Aveiro e Coimbra - núcleo que poderia ser substancialmente melhorado com o recurso a colecções particulares (assim de repente, lembro-me da preciosa colecção de cartazes políticos de José Pacheco Pereira, na sua casa-museu-biblioteca-arquivo da Marmeleira). Há outras surpresas, que não revelo aqui, mas nada como revisitarmos os truques do marketing político usados pelas democracias e ditaduras do século XX para nos convencerem da bondade e das virtudes dos respectivos regimes políticos. Ainda por cima, num espaço fantástico, o antigo Banco Nacional Ultramarino, onde o contraste entre as paredes descarnadas e as estruturas expositivas funciona na perfeição, num registo contemporâneo e "transformador" que surpreende pela positiva. Para mais tarde recordar, ou estudar, não pode deixar de trazer o catálogo, cujo único senão são os 30€. Razões de sobra para não perder esta exposição...

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