Friday, February 15, 2008

O Regicídio, Cem Anos Depois (1908-2008)


O ano de 1908 começou com a prisão de alguns republicanos e correligionários de José Maria de Alpoim implicados em projectadas actividades bombistas. Para 28 de Janeiro, os mesmos conspiradores projectaram o assassínio de João Franco e um golpe de estado na capital apoiado por vários oficiais do Exército e da Armada. Falhada esta iniciativa, Alpoim fugiu para Espanha e foram presos o seu amigo visconde da Ribeira Brava, o professor universitário Afonso Costa e o médico Egas Moniz, ambos republicanos. A 31 de Janeiro, um decreto permitia ao governo expulsar do país os conspiradores, provavelmente para evitar a agitação que o julgamento das personalidades envolvidas provocaria. Mas, na tarde de 1 de Fevereiro, outros membros do grupo de conspiradores esperavam a Família Real, que regressava de Vila Viçosa. Falhado o golpe, haviam decidido pôr fim ao franquismo matando o Rei e os seus familiares. Os agentes do atentado, com armas ocultas em capotes, foram Alfredo Costa e Manuel Buiça, membros das lojas maçónicas e da conspiração projectada por Alpoim e Afonso Costa. Depois de desembarcarem no Terreiro do Paço, o Rei, a Rainha D. Amélia e o Príncipe Real D. Luís Filipe cumprimentaram os membros do governo e os Infantes D. Afonso e D. Manuel, e entraram nas carruagens que os levariam ao Paço das Necessidades. O aparato policial não era grande e circulava-se à vontade na zona. Quando iam a entrar na rua do Arsenal, Costa saiu da multidão, pendurou-se na carruagem do Rei e deu-lhe dois tiros de pistola nas costas que o mataram e feriram D. Manuel. Na mesma carruagem, D. Luís Filipe levantou-se, puxou da sua arma e logo foi alvejado no peito pela carabina de Buiça, que saltara das arcadas. Enquanto os regicidas não foram neutralizados pela própria polícia, a própria Rainha atacou Costa com o que tinha na mão: um ramo de flores. O Príncipe não sobreviveu ao atentado e, poucos minutos depois, D. Manuel era Rei. O governo de Franco, malquisto pela Rainha, caiu dias depois, sendo entregue o governo ao almirante Francisco Ferreira do Amaral. Terminava igualmente o projecto de D. Carlos de reforma do sistema partidário da Monarquia Constitucional portuguesa. Iniciou-se a «acalmação»: foram libertos os conspiradores, fizeram-se eleições a 5 de Abril e as Cortes reabriram a 29. José Luciano e Júlio de Vilhena (sucessor de Hintze no partido regenerador) parecem entender-se para salvar o regime, apoiando Ferreira do Amaral. Em Dezembro, as eleições municipais em Lisboa deram a vitória à lista republicana, com vitórias republicanos similares na zona do vale do Tejo, no Alentejo e no Algarve.

Cem anos depois do Regicídio de 1908 está criada a oportunidade histórica para revisitar e problematizar este importante acontecimento, bem como as implicações políticas e culturais que teve no rumo da história contemporânea de Portugal. É o que propõe a Hemeroteca Municipal de Lisboa organizando para o efeito um conjunto de actividades assente na seguinte programação:


COLÓQUIOS & CONFERÊNCIAS
O Regicídio de 1908, Política e Imprensa - Ciclo de Conferências:
1.ª Conferência (7 Fev 2008 - 18H)
O Regicídio de 1908, Impacto nos jornais portugueses, por Eduardo Teixeira (Professor e Mestre em História Contemporânea pela FLL)
2.ª Conferência (14 Fev 2008 18H)
O Regicídio de 1908, Impacto na Imprensa Estrangeira, por Reto Monico (Investigador e Professor da História na Suiça)
3.ª Conferência (21 Fev 2008 - 18H)
O Regicídio de 1908, Ilustração de Imprensa, por Elisabete Rocha (CML/HML)
4. Conferência (28 Fev - 18H)
O Regicídio de 1908. O Estado da Questão, por Álvaro Costa de Matos (CML/HML)

MOSTRAS BIBLIOGRÁFICAS & DOCUMENTAIS
O Regicídio na Imprensa da Época – Mostra Bibliográfica e Documental alusiva ao impacto do Regicídio de 1908 na imprensa escrita e ilustrada da época, organizada a partir da colecção da Hemeroteca Municipal de Lisboa. Inauguração: 2 de Fevereiro. Em exibição até 29 de Fevereiro.

LANÇAMENTO DE LIVROS
Apresentação do livro Mataram o Rei, de Joaquim Vieira e Reto Monico, editada pela Pedra da Lua, 2008 (280 p.), por Joaquim Vieira (Observatório da Imprensa), no dia 14 de Fevereiro (18H).

VISITAS GUIADAS
“Três Tiros que Abalaram a Monarquia” – Percurso Histórico pelos locais relacionados com o assassínio, em 1 de Fevereiro de 1908, do rei D. Carlos I e do príncipe Luís Filipe. Sujeito a inscrição prévia. Realiza-se aos Domingos (11h), para o público em geral, no âmbito da iniciativa municipal “Ao Domingo o Terreiro do Paço é das Pessoas”, com as terças e quintas-feiras reservadas para as escolas, respectivamente às 11 e 15h. Ponto de encontro: Café Gelo, no Rossio.

CONTEÚDOS DIGITAIS
Hemeroteca Digital – Conteúdos Digitais: no âmbito do Centenário do Regicídio (1908-2008) a Hemeroteca Municipal colocou na Internet alguns conteúdos informativos e documentos relacionados com esta efeméride, como, por exemplo, digitalizações das principais revistas ilustradas da época, iconografia estrangeira, o testemunho íntimo de D. Manuel II, filho mais novo de D. Carlos, o percurso, agora histórico, que precipitou a queda do regime monárquico em Portugal, os livros que os investigadores e leitores poderão encontrar nas bibliotecas municipais de Lisboa sobre o Regicídio, entre outros recursos informativos, como sites e blogs. Um manancial de dados e informações, agora à distância de um simples clique, na Hemeroteca Digital, em
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/

ATELIERS
“A Escola vem à Hemeroteca”
Público-alvo: alunos do 2.º Ciclo (6º ano) e 3.ª Ciclo (9º ano de escolaridade) e ensino secundário.
“A Hemeroteca vai à Escola”
Público-alvo: alunos do 2.º Ciclo (6º ano) e 3.ª Ciclo (9º ano de escolaridade).

Motivos de sobra para dar um salto ao Palácio da Imprensa...

1 comment:

Anonymous said...

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