Monday, May 18, 2009

Plano Revolucionário de Leitura




Não, não é o nosso, que vai de vento em pompa, e não é "revolucionário", mas nacional. E tem lá a Teresa Calçada, que impediria qualquer deriva totalitária. O dito foi apresentada a semana passada pelo inefável Chávez, em Caracas. "Leitura para a consciência" é o lema do Plano Revolucionário de Leitura, e está-se mesmo a ver onde é que isto vai dar. O projecto tem por objectivo "reafirmar os valores de consolidação do homem novo, através da leitura, como base para a construção de uma pátria socialista", repetindo-se uma receita já experimentada por outros ditadores, à esquerda e à direita, com os resultados que todos conhecemos. Mas estas coisas reaparecem, e ninguém se indigna. O que pensa disto o Dr. Mário Soares? E o amigalhaço José Sócrates? E o justiceiro da moral lusitana Francisco Louçã? O mais profundo silêncio...

A consolidação do "homem novo" chavista passa pela criação de grupos de leitura, "nos quais a selecção do material bibliográfico será definida ideologicamente, mediante o contexto político do país", naturalmente!!! Para sossego dos venezuelanos as bibliotecas já foram equipadas com os exemplares adequados. Algumas pérolas da literatura oficial: O Socialismo Venezuelano e o Partido Que o Impulsiona, de Ali Rodríguez (ministro das finanças), Porque sou Chavista? e Ideias Cristãs e Outras Abordagens ao Debate Socialista. Para animar os debates entre os leitores não faltarão também os discursos sem fim de Chávez e o Manifesto Comunista, considerado por Edgar Páez como "obra de excelência, fundamental para a formação ideológica dos cidadãos". Mais claro, seria impossível. A renovação das bibliotecas não será feita apenas com a prata da casa, pois está garantida a aquisição de obras estrangeiras de esquerda, ainda que sujeitas ao crivo da censura do Estado, não vá aparecer por lá algo mais heterodoxo. Para já ficam-se pelas sul-americanas, depois "logo se vê", como explica o representante da prometedora instituição. A literatura ao serviço dos interesses do Estado, no caso, do fomento "do socialismo no século XXI", é aqui feita desta forma descarada, sem um pingo de vergonha. Por quantos mais anos vão os venezuelanos aturar este estado de coisas?

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