Sunday, December 23, 2007

West Cost of Europe?!

A ilusão continua. Depois de dois anos e meio de contínua propaganda, e de condicionamento dos media, nada como mostrar ao povo e ao mundo o quanto modernos e inovadores somos. Como? Organizando-se uma campanha, mais uma, à conta do erário público, que faz as delícias das agências de comunicação. A dita já está na rua, e, numa segunda fase, aparecerá em revistas e jornais estrangeiros. A campanha lançada pelo Ministério da Economia e da Inovação parte do presuposto, desde logo discutível, de que pertencermos ao Sul prejudica a imagem do país no mundo. O Sul, para as luminárias que a conceberam, é sinónimo de "porteiras e bimbos". Esta é a imagem, péssima, que os portugueses têm lá fora. Mas nada como citar o cérebro que está por detrás disto: "Portugal é visto como um país do Sul. Um país de Sol e Mar, mas também de subdesenvolvimento, iliteracia, corrupção e dos recorrentes indicadores estatísticos de miséria. O Sul é o filtro que nos condena a sermos vistos como somos". Basta olharmos para o vizinho do lado, a Espanha, para percebermos o absurdo da tese. Mas o delírio não fica por aqui. Como não é possível uma espécie de refundação geográfica, resta-nos, como solução para o estigma do Sul, "reposicionar o país como a Costa Ocidental da Europa", perdão, como a West Cost of Europe, pois esta lembra, segundo a estratégia da campanha, "o sol, a praia, o surf, a qualidade de vida, Hollywood, criatividade, entretenimento, Los Angeles, Napa Valley, San Francisco, Las Vegas, Silicon Valley, e tecnologia, sociedade aberta, multicultural, estilos de vida alternativos". Tudo coisas que abundam por aqui, claro está! Reposicionar Portugal significa mesmo suprimir-lhe o nome, que lhe tira valor, substituíndo-o por West Coast, e, num ápice, transformamo-nos num país moderno, inovador, irresistível. Para a renovação da imagem do país foram buscar oito celebridades nacionais, José Mourinho, Cristiano Ronaldo, Nélson Évora, Vanessa Fernandes, Mariza, Miguel Câncio Martins, Maria do Carmo Fonseca e Joana Vasconcelos, que foram depois fotografados para a posteridade por Nick Knight. E aqui temos o novo Portugal, das fadistas, dos futebolistas, dos cientistas, líder nas energias alternativas, em vez dos padeiros do Brasil, dos pedreiros na Alemanha ou dos porteiros e das mulheres-a-dias em França. Como se o futebolista não fosse a continuação da porteira. Como se não houvesse dezenas de Joanas de Vasconcelos por essa Europa fora. Como se não estivéssemos a reproduzir outros estereótipos, no lugar dos velhos. Pior do que a vergonha pela nossa cultura e identidade só mesmo este o pós-modernismo bacoco patrocinado pelo Estado...

3 comments:

joao marques de almeida said...

Calar-se-ão todas as más línguas quando o fluxo de turistas começarem a congestionar a West Cost of Portugal, eu próprio também quer lá ir, ando até a ver se marco passagem. Vêm todos atraídos pelas celebridades, não sei se faz parte do contracto poder tocar-se nelas., mas de qualquer modo as pessoas poderão dizer que tiveram na West Costa do fulano.
Só é estranho que não tenham arranjado um fotografo da West Costa para fazer as fotografias. Seria o trabalho assim tão mal pago?
Caro Álvaro, estes fulanos são, além de outras coisas feias, uns parolos e
isto é só mais uma anedota a juntar aos drama que este se esta a gerar em Portugal. E o drama é já o próprio regime.

Álvaro Costa de Matos said...

Caro João,

Temo que o fluxo ainda nos afunde e deixe de haver "West Cost of Europe". Segundo os jornais o dito fotógrafo terá arrecadado qualquer coisinha como € 350.000!!! Baratinho!!! Pelos vistos a parolice, cara, ainda por cima, não tem limites.

Abraço Amigo.

Assim Falava Zaratustra said...

Talvez seja antes "West Coast of Portugal" não te parece?

Um abraço,

Pedro