Thursday, June 9, 2011

Um Novo Ciclo na Política Portuguesa...

Com efeito, estas legislativas configuram um novo ciclo na vida política portuguesa. Portugal virou à direita, assim os jornais o estamparam nas suas primeiras páginas. Eu prefiro sustentar que Portugal se tornou menos “colectivista” e mais “individualista”, ideologicamente falando. Ou se preferirem, menos socialista e mais liberal. E é aqui que está a principal originalidade destas eleições, e do seu resultado, que foi a colocação no poder do partido político mais liberal desde o 25 de Abril de 1974. Para espanto de muito boa gente, o país dito sociologicamente de esquerda (um dos mitos que cai por terra nestas eleições) deu uma expressiva vitória ao papão “neo-liberal” Pedro Passos Coelho. Porquê?

Num cenário de crise económica e política, com o fantasma da bancarrota à porta, os portugueses que votaram recusaram a demagogia, as experiências políticas, os ziguezagues ideológicos e éticos, e escolheram o projecto de sociedade que lhes dá mais esperança, que combina austeridade, protecção social aos mais desfavorecidos e crescimento económico. Cansados de PEC’s sucessivos, confrontados com um desemprego histórico, com uma diminuição considerável do seu nível de vida, e também com um certo estilo de fazer política (marcado pela ficção, em detrimento da realidade), preferiram o realismo de PPC. Contra os teóricos do marketing político, os portugueses preferiram a verdade, nua a crua, e aqui PPC não os defraudou: foi transparente, não escamoteou as dificuldades e anunciou medidas antipáticas.

Concorde-se ou não com as soluções (e estou convencido que muitas das propostas mais liberais serão devidamente ajustadas à realidade nacional), o seu programa eleitoral era o único que oferecia um contrato sério com o eleitorado, um caminho sólido para a saída da crise que atravessamos: o cumprimento do memorando da “Troika”, na íntegra; a diminuição da despesa inútil do Estado, para sustentar a educação, a saúde e a protecção social públicas; a criação de condições para voltarmos a crescer economicamente, única forma de combater o desemprego e pagarmos as nossas dívidas. E por isso o seu programa foi tão discutido. Pelo contrário, o programa do CDS-PP era um manifesto, mais do que um programa eleitoral; o do PS um conjunto de generalidades que não se comprometiam com nada; o da CDU uma reciclagem do programa apresentado nas eleições de 2009, como se o mundo não tivesse mudado nestes dois últimos anos; o do bloco um projecto para uma outra sociedade, que não esta, assente numa democracia liberal, que liminarmente o rejeitou, em bloco. Comparem-se rigorosamente os programas eleitorais (pondo de lado as simpatias partidárias) e vejam se não chegam às mesmas conclusões.

Muitos quiseram ver na vitória de PPC um protesto a José Sócrates, mais do que uma vitória do próprio e do seu programa eleitoral. Objectivo: desvalorizar o resultado de PPC e o do PSD. Mas isto é subestimar a inteligência das pessoas. A desfaçatez é tanta que alguns iluminados, do alto do seu pedestal, invocaram o argumento da iliteracia para explicar a hecatombe da esquerda moderada e da esquerda radical. Como se os eleitores fossem incapazes de ajuizarem o estado do país pelas suas próprias cabeças. Não percebem, ou não querem perceber, a mensagem do eleitorado: desçam à terra, deixem-se de ilusões, e proponham soluções concretas para este mundo. Ora, foi isso que PPC fez, com mais ou menos gafe. E os portugueses, como contrapartida, deram-lhe uma vitória política que não mais esquecerá.

4 comments:

Álvaro Costa de Matos said...

Com a devida autorização do próprio, coloco aqui (em várias partes partes) o comentário do meu Amigo António Campos Leal

Caro Álvaro Matos,
numa prosa que fluente e organizada expressou o seu pensar em torno de um momento que atinge a sociedade portuguesa. Não deixo no entanto de reparar no que por ela perpassa de "dejá vue" entre um conjunto de intelectuais que acabam por expressar nos seus textos, eu diria, uma outra "cassete" a de um pensamento do salvador, surgido de uma penumbra qual D. Sebastião da lonjura dos tempos. Nem PPC será o salvador, nem Portugal deixará de acreditar em milagres. Ele é o milagre para a cura da doença, ele servirá à vitória do clube amado. Ele é de novo para arranjar um emprego, de preferência bom e estável. Ele é agora para salvação da Pátria.
Mas, nada melhor que aproveitando-me do seu texto fazer uma pequena intrusão no mesmo e que desejo, não seja uma maçada para quem se der ao cuidado de o ler independentemente das posições perfilhadas. Assim, os meus comentários surgem intercalados, em itálico, Bold e encimados pelas iniciais ACL

Um Novo Ciclo na Política Portuguesa...

ACL
Não será tão novo assim, apenas o retorno a um período critico da sociedade portuguesa e em que o deve e haver de uma crise será pago por uma grande parte da população para manutenção de um patamar de riqueza só atingido por uma minoria. O D. Sebastião pode ter surgido, mas o exército está faminto. A corte essa continuará o seu percurso natural degladiando-se entre si na divisão dos despojos das suas próprias tropas.

"Com efeito, estas legislativas configuram um novo ciclo na vida política portuguesa. Portugal virou à direita, assim os jornais o estamparam nas suas primeiras páginas. Eu prefiro sustentar que Portugal se tornou menos “colectivista” e mais “individualista”, ideologicamente falando. Ou se preferirem, menos socialista e mais liberal. E é aqui que está a principal originalidade destas eleições, e do seu resultado, que foi a colocação no poder do partido político mais liberal desde o 25 de Abril de 1974. Para espanto de muito boa gente, o país dito sociologicamente de esquerda."

ACL
"só distraidamente se sustenta esta afirmação no resultado de uma escolha eleitoral. Nem a escolha é tão alicerçada, nem o país será tão sociologicamente de esquerda.

"(um dos mitos que cai por terra nestas eleições) deu uma expressiva vitória ao papão “neo-liberal” Pedro Passos Coelho. Porquê?
Num cenário de crise económica e política, com o fantasma da bancarrota à porta, os portugueses que votaram recusaram a demagogia, as experiências políticas, os ziguezagues ideológicos e éticos, e escolheram o projecto de sociedade que lhes dá mais esperança, que combina austeridade, protecção social aos mais desfavorecidos e crescimento económico."

ACL
Recusaram?? Temos então que a população portuguesa, no que aos votantes se poderá induzir, está entre a mais esclarecida da Europa, quer politicamente quer no que ao conhecimento das muitas e variadas questões da macroeconomia diz respeito. Fico baralhado. Como chegamos a este estado de coisas. Afinal com uma população tão esclarecida, que inteligência pretende dominar os nossos destinos. Que governos nos orientaram para um destino que tem décadas de caminhos trilhados e que não foi só um percurso do desgoverno de Sócrates. Aonde o tempo da AD, aonde os governos de Cavaco Silva e mesmo por onde o trajecto de um Guterres?

Álvaro Costa de Matos said...

Parte 2:

"Cansados de PEC’s sucessivos, confrontados com um desemprego histórico, com uma diminuição considerável do seu nível de vida, e também com um certo estilo de fazer política (marcado pela ficção, em detrimento da realidade), preferiram o realismo de PPC. Contra os teóricos do marketing político, os portugueses preferiram a verdade, nua a crua, e aqui PPC não os defraudou: foi transparente, não escamoteou as dificuldades e anunciou medidas antipáticas"

ACL
Preferir, supõe tomar decisão com base no saber feito, perante tantos engodos e manipulações da razão que suporta a opção mais uma vez sinto que a esta nação e aos seus cidadãos foi dada a oportunidade de expressarem um querer de uma simples diferença. Se o anterior governo foi tão mau, para os interesses de grande parte da população, a alternativa não poderá ser pior. Ora aí é que surgem as minhas maiores preocupações, e de muitos portugueses, mesmo que os queiram reduzir a percentagens de apenas um digito. As medidas que vão ser tomadas vão penalizar uma extensa parte da população e nessa altura, mais uma vez a população vai utilizar o velho chavão. São todos iguais. E assim quem vai sofrer é a Democracia, pois nada pior para a busca de caminhos que cativem uma imensa mole abstencionista e que convenhamos possivelmente terá uma opinião tão estruturada quanto os que exerceram o seu direito de voto.

"Concorde-se ou não com as soluções (e estou convencido que muitas das propostas mais liberais serão devidamente ajustadas à realidade nacional), o seu programa eleitoral era o único que oferecia um contrato sério com o eleitorado"

ACL
Nunca será um contrato para com o eleitorado. Quando muito, a existir contrato, ele será com os que formatando destinos individuais, condicionam o destino da Pátria sem contudo abrir portas ao encontro de um País em que o todo, seja sem alguma dúvida, mais equilibrado na globalidade de um desenvolvimento aberto a partes mais vasta da sociedade.

Álvaro Costa de Matos said...

Parte 3:

"um caminho sólido para a saída da crise que atravessamos: o cumprimento do memorando da “Troika”, na íntegra; a diminuição da despesa inútil do Estado, para sustentar a educação, a saúde e a protecção social públicas; a criação de condições para voltarmos a crescer economicamente, única forma de combater o desemprego e pagarmos as nossas dívidas. E por isso o seu programa foi tão discutido. Pelo contrário, o programa do CDS-PP era um manifesto, mais do que um programa eleitoral; o do PS um conjunto de generalidades que não se comprometiam com nada; o da CDU uma reciclagem do programa apresentado nas eleições de 2009, como se o mundo não tivesse mudado nestes dois últimos anos; o do bloco um projecto para uma outra sociedade, que não esta, assente numa democracia liberal, que liminarmente o rejeitou, em bloco. Comparem-se rigorosamente os programas eleitorais (pondo de lado as simpatias partidárias) e vejam se não chegam às mesmas conclusões.

Muitos quiseram ver na vitória de PPC um protesto a José Sócrates, mais do que uma vitória do próprio e do seu programa eleitoral. Objectivo: desvalorizar o resultado de PPC e o do PSD. Mas isto é subestimar a inteligência das pessoas. A desfaçatez é tanta que alguns iluminados, do alto do seu pedestal, invocaram o argumento da iliteracia para explicar a hecatombe da esquerda moderada e da esquerda radical."

ACL
No que as mentes "iluminadas" falham é que por muito que analisem, por muito que teorizem, digamos mesmo, por muito que estrebuchem, a realidade dos movimentos sociais é sempre, tal qual como na Dinâmica, acção e reacção. O que pressupõe que toda e qualquer acção irá a seu tempo, despoletar uma reacção que se prefigura bem diferente do que pelos vistos é anseio de quantos não deixam de beneficiar deste jogo ora sai rosa ora entra laranja.

Álvaro Costa de Matos said...

Última parte:

"Como se os eleitores fossem incapazes de ajuizarem o estado do país pelas suas próprias cabeças. Não percebem, ou não querem perceber, a mensagem do eleitorado: desçam à terra, deixem-se de ilusões, e proponham soluções concretas para este mundo. Ora, foi isso que PPC fez, com mais ou menos gafe. E os portugueses, como contrapartida, deram-lhe uma vitória política que não mais esquecerá."

ACL
Aos portugueses restará por certo relembrar que as alternativas existem e que não serão uns quantos "morgaditos" recheados de modernidade, que salvarão a Pátria. Pois essa a ser salva vão ter de estar na mão dos que fazem o seu devir diário.

Cumprimentos
António Campos Leal