
Morreu Raul Hilberg, um dos historiadores maiores do Holocausto. Hilberg ficou conhecido pelo livro The Destruction of the European Jews, publicado em 1955 depois duma imensa investigação - será reescrito duas vezes, em 1985 e 2003, devido à abertura dos arquivos soviéticos. O livro marca um corte com os estudos até aí realizados, ao ponto de alguns falarem antes de uma "revolução historiográfica". Hilberg narra o Holocausto como um processo, reconstituindo minuciosamente as suas etapas, a máquina burocrática e as operações de extermínio realizadas pelos alemães durante a segunda guerra mundial. As palavras são dele: "Decidi interessar-me pelos executores alemães. A destruição dos judeus era uma realidade alemã. Foi posta em marcha nos gabinetes alemães, numa cultura alemã". O resultado foi a consulta de uma massa incalculável de documentos apreendidos pelos americanos, entre os quais se encontravam 6 caixotes provenientes da biblioteca pessoal de Hitler. Percebe, então, que o extermínio dos judeus atravessava toda a administração e sociedade alemãs. Como acontecimento histórico não tinha precedentes. A destruição sistemática é interpretada não tanto como o resultado do anti-semitismo existente, duma explosão de ódio, mas sobretudo duma "determinação fria, um processo burocrático gerido com método e inventividade". Não há um plano pré-determinado de aniquilação. Trata-se antes duma ofensiva que evolui, de salto em salto, até à "solução final". Hilberg publicou ainda outras obras importantes, como Perpretators Victims Bystanders (1992), em que as vítimas ocupam o lugar central, e The Politics of Memory (1996), uma autobiografia intelectual. Um autor fundamental para compreender o problema do genocídio, até porque a História repete-se.